Aeroporto, Inoperacionalidade e Revelações


B om dia. Ontem à noite pudemos assistir ao programa "Interesse Público" da RTP-M sobre a inoperacionalidade do nosso aeroporto. Gostei porque foi civilizado, sem políticos arruaceiros, abalroadores das ideias ou canalha. Os entrevistados fazem muita diferença. Gentelmans.

Disseram que só uma companhia abandonou a Madeira nos últimos tempos, penso que se referiam fora da Covid e desde que os ventos agudizaram e a inoperacionalidade do aeroporto aumentou. Pelas minhas contas foram 6, uma escandinava, uma do centro da Europa, uma belga, uma turca com subsidiárias na Europa e duas espanholas. Não importa quem, que regressem um dia sem estigmas, o que sim importa é que os custos da inoperacionalidade já se fazem sentir, como bem analisou David Caldeira.

Arregalei os olhos quando o comandante aposentado da TAP, José Correia Guedes, falou sobre os estudos da extensão da pista (link da parte), mencionando o famoso piloto de testes André Turcat, engenheiro aeronáutico, primeiro piloto a voar o protótipo do Concorde a 2 de março de 1969 e diretor de testes de voo do mesmo. Ele participou na comissão de estudos com ensaios em Poitiers, onde houve revelações inesperadas que se confirmam nos nossos dias. Dos ensaios aos ventos, no projeto, registaram-se novas situações de vórtices e turbilhões.

André Turcat “Grand Turk”

O que quero ressalvar é que temos um histórico de estudos na gaveta em obras marítimas, rede viária com túneis e pontes, não sabia que a ousadia tinha chegado à aeronáutica, dado que os estudos concordaram com elementos de segurança mas não com aquele projeto de ampliação (de Edgar Cardoso na extensão da pista tal como está agora), porque ia adicionar aos fenómenos dos ventos ainda mais outros da estrutura. O Único Importante nunca ouviu ninguém, cego pela sagacidade política e pelos cifrões do betão. Creio que construíram um chão para aterrar, não menosprezando a engenharia de o fazer, mas desvalorizando as condições para aterrar. As alterações climáticas estão a fazer o resto, intensificando o que sempre foi conhecido pela operação e pelos estudos em Poitiers.

Gostei da serenidade e da explicação do comandante José Guedes, desprendido, precisamos destes elementos sem esqueletos no armário, do pragmatismo de João Welsh sobre o que se deve fazer e da análise económica de causa/efeito de David Caldeira. Não pude deixar de pensar que algumas almas andam aflitas para uma solução à força, quando se metem estudos na gaveta que vão condicionar para sempre aquele aeroporto. Dá nisto. Mas isso omite-se. É muito bom ouvir pessoas livres e fora da narrativa, do medo e da autocensura. Gostei das imagens que um elemento trouxe, esqueceu de dizer que o aeroporto visado das Canárias (La Palma), apesar de parecido com o nosso, não tem a orografia e os ventos que nos condicionam, por isso se deixou na ilha ser parecida. Tem outros pormenores, quando o vulcão está em "on".

Pragmaticamente, "quer queiram, quer não", sem solução na Madeira e aventuras à parte, atendendo que os aviões têm os seus limites e até dentro dos limites se borrega (tal como acima pode correr bem) a solução será Porto Santo de backup com ferries rápidos, e estes não deverão ser os mesmos da ligação regular ao Porto Santo, cada macaco no seu galho. Só faltava mais um janeiro sem ferries da inoperacionalidade (2).

O Governo agora pensa, imagine-se! ... numa taxa turística para corresponder à inoperacionalidade no nosso aeroporto, para cobrir as despesas com essas verbas. Cobrando todo o ano, julgo que dá superavit.

O que está em causa é quem toma a responsabilidade de assinar. Este elemento o que tem em mente não é retórica política mas estudos de conforto à sua decisão e, os seus limites mínimos, não são para vedetas mas para pilotos comuns e de pouca rodagem no nosso aeroporto.

A determinada altura, explicando o que sucede na cabeceira da pista 23, lado de Machico, José Guedes soltou um "para que não percamos passageiros". É isto mesmo, se "martelarem" uma solução o mercado retrai.


Enviado por Denúncia Anónima.
Quinta-feira, 25 de Maio de 2023
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