Este é um artigo de opinião-protesto. As afirmações abaixo representam perceções, suspeitas e inquietações públicas, e não alegações factuais sobre indivíduos específicos.
H á questões que ardem mais do que a própria vergonha colectiva que transportamos. E uma delas é esta: como é que a droga continua a entrar na Madeira, ano após ano, com a mesma facilidade com que o vento atravessa uma porta escancarada? Nada pára. Nada trava. Nada muda. E, pior ainda, quase ninguém parece disposto a encarar o cheiro a podridão que se arrasta pelas ruas como se fosse brisa marítima.
Fala-se em “combate ao tráfico”, em “reforço policial”, em “tolerância zero”. Palavras bonitas, afiadas como lâminas… mas completamente cegas quando o que se vê no terreno é um sistema que range, hesita e, por vezes, parece simplesmente virar a cara. Muitos cidadãos murmuram, nos bares, nas varandas, nos corredores apertados dos prédios, que a droga não entra sozinha, que alguém deixa a porta aberta, que há engrenagens demasiado bem oleadas para serem mero acaso. É suspeita? É indignação? É cansaço acumulado? É tudo isto, embrulhado na amarga certeza de que o problema cresce precisamente onde devia ser travado.
A sensação é devastadora, os mesmos mecanismos supostamente criados para proteger a população parecem, aos olhos de muitos, incapazes ou desinteressados em enfrentar o problema. E quando esta perceção se instala, a confiança pública derrete como sal ao sol. A rua comenta, desconfia, rosna, e tem razões para isso. Quantas apreensões falhadas? Quantas investigações que se arrastam até ao esquecimento? Quantos discursos oficiais que brilham mas nada resolvem? A população já não pede milagres; pede apenas que alguém, finalmente, assuma a responsabilidade.
Porque há crianças a crescer entre becos onde a droga circula como água. Há famílias a enterrar filhos. Há bairros que se habituaram a viver entre sombras. E há toda uma região farta de sentir que é tratada como uma retaguarda descartável de interesses obscuros, reais ou percebidos. O que mata aqui não é só a droga; é a fria sensação de impunidade que a acompanha.
Este protesto não é contra uma pessoa, mas contra uma cultura de opacidade. Contra o comodismo institucional. Contra a normalização da tragédia. Contra a ideia absurda de que “é mesmo assim”. Não, não é. E não pode continuar a ser.
A Madeira merece respostas, claras, frontais, verificáveis. Merece fiscalização séria, investigação competente e transparência radical. Até lá, o silêncio continuará a cheirar a medo. E continuaremos a gritá-lo.
