Uma análise ao comentário de Alberto João
D epois de ter assinado pela candidatura de Gouveia e Melo, Alberto João diz que não vai votar na primeira volta das Presidenciais, porque Gouveia e Melo defraudou ao negar revisão Constitucional e porque as candidaturas parecem uma guerra de comadres. Mas afirma que, na Segunda Volta, vai votar porque terá de escolher o mal menor para o país.
Interpreto como uma jogada de desespero para favorecer Marques Mendes que está mal cotado e só leva metade do eleitorado do PSD. Se Alberto João "denegrir" Gouveia e Melo, e incentivar a não votar nele, significa que poderão ficar mais votos para os outros.
O problema deste raciocínio é que se tu não votas nos melhores da Primeira Volta das Presidenciais nunca os terás na Segunda Volta e aí poderás ter dois péssimos para escolher o péssimo menor. Cuidado com o eleitorado do protesto e dos fanatismos.
Esmiuçando:
- Ao "denegrir" o candidato que é visto como um dos principais opositores dentro do espaço ideológico do PSD/Direita, retira-lhe credibilidade e força.
- Numa eleição presidencial, onde não há coligações e o foco é no indivíduo, desincentivar o voto num candidato é equivalente a redirecionar esse potencial voto para outro (como Marques Mendes, "mal cotado" depois de anos de visibilidade na TV (mesma receita de Marcelo Rebelo de Sousa.
- Desmantelar a opção mais forte do adversário (Gouveia e Melo) para elevar uma opção mais fraca (Marques Mendes), especialmente se houver um interesse em impedir a ascensão de Gouveia e Melo.
- Rotular as candidaturas como uma "guerra de comadres" visa desvalorizar o processo eleitoral e o debate político. Isto pode levar ao desencorajamento do eleitorado, especialmente daqueles que estão descontentes com a política atual. Mas fomenta os extremismos.
Esta posição também pode aumentar a abstenção geral, incluindo a abstenção do próprio eleitorado do PSD. É completamente estúpido o raciocínio central que acaba em autossabotagem da 2ª Volta, deixar à sorte a escolha dos dois competidores finais... e se acerta em dois péssimos para o país?
Na 1ª Volta (fase da escolha ideal), o eleitor tem a oportunidade de votar no seu candidato preferido, aquele que representa as suas ideias e a sua visão de país. A primeira volta serve para medir a verdadeira força e o apoio a diferentes projetos.
A 2ª Volta (fase da escolha utilitária, só ocorre se nenhum candidato obtiver mais de 50% dos votos na primeira volta. É uma corrida entre os dois mais votados. Nesta fase, o eleitor é forçado a escolher o "mal menor" ou o candidato que considera "menos mau" para o país, conforme a própria expressão de Alberto João. Há quem volte a votar no seu que prossegue candidato ou muda porque o seu não passou da Primeira Volta.
A jogada de Alberto João pode ser estrategicamente astuta num plano político interno (enfraquecer um rival), mas é miópica do ponto de vista do sistema eleitoral e da qualidade da democracia.
Quero recordar a eleição de 1986, um exemplo paradigmático de como a fragmentação e as divisões internas podem levar à derrota na 1ª volta e forçar a escolha do "mal menor" na 2ª volta.
O "Melhor" na 1ª Volta de 1986 foi Freitas do Amaral, o candidato do centro-direita que alcançou uns impressionantes 46,3% na primeira volta, ficando a um passo da vitória imediata. A direita tinha vários nomes na corrida ou dissidentes (como Salgado Zenha, que era de esquerda, mas atraiu votos de protesto de outros quadrantes). O ponto crucial foi a incapacidade de Freitas do Amaral atingir os 50%. No cenário da 2ª Volta, com o Freitas do Amaral e Mário Soares (25,4%), os mais votados, a 2ª volta foi um duelo entre o centro-direita e o centro-esquerda com uma transformação eleitoral tremenda. E se Soares não tinha ido para s Segunda Volta? Se tivesse sido Francisco Salgado Zenha (20,6%)?
Mário Soares acabou por vencer com 51,4% dos votos, revertendo o resultado da 1ª volta. Teve mais do dobro dos votos da Primeira Volta, este potencial estaria inacessível se Zenha, a pouca distância lhe tivesse tomado o lugar e Soares teria um ponto menos no seu historial político.
Se os apoiantes de Freitas do Amaral (ou os descontentes do centro-direita que preferiram ficar em casa ou votar noutras opções) tivessem garantido os poucos pontos percentuais em falta na 1ª volta, o resultado teria sido imediato e não haveria necessidade de escolher o "mal menor" na 2ª volta. O erro foi não consolidar o voto no candidato mais forte logo no início.
O raciocínio de Alberto João de desmobilizar um candidato forte na 1ª volta (Gouveia e Melo) aumenta o risco de esse candidato não atingir os 50%, forçando-o a uma 2ª volta perigosa contra um adversário mais unificado. Estou a raciocinar, não estou a dar indicação de voto, estou a pedir que vão votar porque é importante.
A eleição do Presidente da República é para o país e não para a Madeira em exclusivo. Alberto João tem dogmas como um comunista e escolhe errado, senão não tinha subscrito uma candidatura para agora lhe retirar o apoio. Mais uma toupeira da vida madeirense, do mentor de tudo isto.
Estimados gestores da plataforma, peço que coloquem o vídeo no início da publicação e não no fim. Obrigado e muita força. Boas fetsas.
