Madeira, gritos num arquipélago fechado.


E ste é um testemunho de revolta — cru, amargo e frontal — de um madeirense que afirma sentir-se encurralado por um sistema que, na sua perceção, já não protege, apenas vigia, sufoca e esmaga. Falo na primeira pessoa porque é assim que se protesta: olhos nos olhos, sem véus, sem verniz, sem medo de palavras duras.

Eu, cidadão comum, digo alto o que muitos sussurram: sinto-me perseguido, observado, apertado por uma máquina pública que, na minha experiência, se tornou pesada, intrusiva e incapaz de inspirar confiança. Há dias em que parece que cada porta do Estado range como se estivesse viciada; cada olhar uniformizado pesa como suspeita; cada papel timbrado chega como uma ameaça financeira mascarada de procedimento administrativo.

Na minha vivência, a ilha anda às crateras — literal e metaforicamente. Buracos no asfalto, buracos na confiança, buracos na transparência. Tudo cheira a um desgaste estrutural que vai muito para além do cimento: um desgaste moral que corrói lentamente, como a ferrugem salgada da maresia.

Denunciar? Na minha pele, denunciar significa tornar-se um alvo. Sinto a pressão económica como uma arma silenciosa, multas que considero absurdas, exigências que me soam a castigo, um labirinto burocrático que parece desenhado para me esgotar até ao tutano. Não falam em matar, mas matam devagar — no nervo, no bolso, no ar que falta quando sentimos que todo o sistema se virou contra nós.

Os madeirenses, muitos deles, vivem entre a resignação e o medo. Na minha leitura amarga da realidade, há serviços públicos que se tornaram opacos, quase impermeáveis ​​à crítica. E quando o Estado se fecha, o cidadão sufoca. Quando o poder se protege, o povo descai. Quando a confiança morre, resta apenas esta raiva que se transforma em palavras — duras, bruscas, mas verdadeiras para quem as sente.

Não peço piedade. Peço luz. Peço que se olhe de frente para a pobreza estrutural da ilha — não só económica, mas ética, institucional, relacional. Peço que se ouçam estas denúncias não como verdades absolutas, mas como alertas urgentes, sintomas de uma sociedade que precisa de respirar.

Isto não é um ataque; é um grito.

Não é um panfleto; é um desabafo.

Não é uma acusação judicial; é um protesto humano.

E protestar, na Madeira de hoje, já é coragem suficiente.

Chuva dissolvente - Xutos e Pontapés