H á dias vi um bom texto sobre Turismo Sustentável no CM (link), o nosso governo pinta sempre tudo muito bonito, com RevPAR, mas não dos rendimentos auferidos pelos funcionários dos hotéis, apesar do "brilhantismo" da massificação.
No entanto, há outras singularidades. O turismo vem, aloja-se e consome, bens e serviços, e da alimentação ninguém foge, o que pode ser uma forma de potenciar a nossa agricultura. A verdade é que vemos muito "folclore", festas de produções em linha descendente. Falta investigação para fazer face a doenças e alterações climáticas. Faz falta estudo para produzir mais dentro das nossas limitações. Antigamente a aposta era nos subtropicais, agora já se vende ao turismo o "tropical". Há uma cooperativa que vai consumindo tanto que ainda vai fazer produtores desistirem da produção. Aí vão aparecer os especuladores e os construtores em cima dos terrenos. Não será necessário dizer que estamos em rota insustentável.
Reparem que não vendemos mais o que é nosso porque não temos, falo de vendas sempre a rodar e não uma moradia. A "Sidra" é importada, a aguardente branca já não chega, os concentrados para gaseificados fazem a vez e volta-se a pagar pouco pela cana, as videiras têm bons terrenos, os clientes mudam. Praticamente tudo o que comemos é importado e muito menos transformamos para consumir mais tarde. Pela maneira como vai o mundo, a massificação deveria nos colocar no trilho certo da produção agrícola, até porque depois, faltando o turismo (por conflitos no horizonte), pandemias ou porque a popularidade cai, comida não nos faltaria. Viva outra vez os Açores. Vamos ser francos, todo este alvoroço de gente é encaminhada para obras e não para ser sustentável.
É verdade que temos limitações geográficas, a topografia montanhosa da Madeira, a disponibilidade limitada de terrenos planos, o acesso difícil, etc, mas criminoso é se "empoleirarem" para extrair pedra e fazer a terra ir para o mar. Neste momento, mais do que as áreas limitadas de terras agricultáveis temos a pressão do desenvolvimento urbano e os fracos rendimentos extraídos da agricultura para fazer os produtores vender os terrenos para a bolha. Antigamente até os "poios" eram atração turística. Há muito que, mais pobres, mas com terrenos de família eramos sustentáveis.
A gestão dos recursos hídricos, é outra lamentável asneira. A disponibilidade de água é um desafio significativo para a agricultura na Madeira mas não é para campos de golfe? As alterações climáticas vão nos deixar parecidos com África e não cuidamos para comer? Nós sempre tivemos uma distribuição irregular das chuvas, por isso se construíram as levadas para trazer água para sul. E agora com as alterações climáticas?
Nós sempre tivemos forte dependência das importações de alimentos, por outro lado temos fretes marítimos exorbitantes. E não produzimos? Ficamos quase 100% na dependência de mercados externos, só falta uma guerra a provar outro erro, para além do modelo económico na pandemia.
Cada vez mais há soluções sustentáveis, nos Estados Unidos já descobriram a solução para o gado não contribuir para as alterações climáticas, e nós aqui? A agricultura sustentável na Madeira só marcará pontos a par da conservação ambiental, evitando a degradação do solo, a erosão e o impacto negativo na biodiversidade local, garantindo Laurissilva e mancha arborizada para atrair humidade que se infiltra mas, esse problema, só se põe com caça-pedras, caça-obras, construção, campos de golfe, etc.
É preciso valorizar a agricultura, já vamos tarde, vemos isso no envelhecimento da população agrícola, resultado da fuga dos novos para fora da Madeira. A agricultura tem que gerar produtores de sucesso e não cooperativas de sucesso.
Precisamos de outra política agrícola, sem dúvida outro secretário, conservação do solo, a utilização eficiente da água, a diversificação de culturas e a promoção da agricultura biológica (para baixar preços pela quantidade). Precisamos de muitos e não só os emblemas do poder. É preciso investimentos em infraestrutura agrícola (do GR), formação profissional e apoio técnico aos agricultores.
Temos cada vez mais gente a circular e a perfazer uma população em permanência, quase a fazer mais uma população paralela à da Madeira e só pensamos em vender casas, essas que vão esgotar os terrenos. A agricultura alimenta o turismo e é inesgotável, é sempre negócio. Temos clima favorável e solo fértil, é preciso incentivar a produção de alimentos orgânicos e promover produtos locais de alta qualidade para impulsionar outra economia local, atrair o turismo gastronómico. Há tanto por fazer e tudo isto se resume a um marasmo publicitário!
Se leu o meu texto, obrigado. Com certeza muito (e)leitor tem o rei na barriga.
Enviado por Denúncia Anónima
Sábado, 8 de Julho de 2023
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