Democracia com prazo de validade

N o passado sábado, 13 de Dezembro, o Partido Socialista da Madeira foi a eleições internas para escolher a sua nova presidente. A cronologia é simples e quase pedagógica: em 2022 foi Sérgio Gonçalves, em 2023 Paulo Cafôfo, e em 2025 Célia Pessegueiro, a primeira mulher a liderar o partido na Região. Três datas, três lideranças, um detalhe curioso: eleições.

Aqui começa a parte divertida — e instrutiva. Num tempo em que muitos partidos confundem liderança com posse vitalícia, há quem ainda pratique aquele velho hábito democrático de mudar de chefe sem drama, sem trono e sem direito hereditário. Um partido onde o cargo circula, em vez de ficar em conserva.

E os outros? Pergunta legítima, quase ingénua. Quando é que os restantes partidos políticos da Madeira decidem que liderança não é sinónimo de eternidade? Miguel Albuquerque lidera o PSD/PPD Madeira desde 2015 e governa como quem renova automaticamente a assinatura anual. Pelo caminho, surgiram boatos — nunca provados — que ficaram no domínio do folclore político. Nada confirmado, tudo esquecido, como convém num regime de memória curta.

No JPP, a história é ainda mais curiosa. Élvio Sousa é secretário-geral desde a fundação do partido, em 2015. Dez anos depois, continua. Não por milagre, mas por estrutura. Embora existam cargos formais de presidência, o rosto, a voz e o comando real mantêm-se estáveis, como uma estátua bem polida. Democracia interna? Sim, mas com manual de instruções muito próprio.

A ciência política chama a isto um problema clássico: partidos que funcionam mais como clubes fechados do que como organizações abertas. Menos participação, menos alternância, mais personalização do poder. O resultado é conhecido: menos debate, menos escrutínio, mais silêncio obediente.

Não se trata de esquerda ou direita, mas de regras do jogo. Democracia sem alternância é como eleições sem escolha: existe no papel, falha na prática. E enquanto uns mudam de liderança como quem muda de turno, outros mantêm o mesmo comando como se fosse lei natural.

No fim, a pergunta fica no ar, irónica e incómoda: quantos anos são precisos para um líder deixar de ser eleito e passar a ser apenas… permanente?

Os mais sinceros votos de parabéns por este resultado, a Célia Pessegueiro, que sinaliza um novo ciclo de vitalidade democrática. É com elevado sentido de responsabilidade e esperança que saudamos a sua eleição para a Presidência do PS-Madeira. Será um privilégio acompanhar uma liderança pautada pelo rigor, pela transparência e pelo compromisso inabalável com a justiça social e a autonomia da nossa Região.