Porquê que o PSD continua a ganhar na Madeira, 48 anos depois?


V ários amigos meus continentais perguntam-me como é que o PSD se consegue aguentar tantos anos no poder na Madeira. A resposta leva sempre a uma dissertação longa. O PPD/PSD foi o partido que começou a governar a Madeira na democracia pós 1974. A Madeira era uma região muito pobre e com uma grande taxa de analfabetismo, com uma burguesia dominada por famílias estrangeiras de apelidos que quase toda a gente já ouviu falar como Blandy, Leacock, Hinton, etc. Alberto João Jardim, tornou-se populista ao tentar acabar com essa burguesia que dominava a região, bem como com o regime de colonia das terras que eram cultivadas na região.

Com o quase fim dessa burguesia estrangeira, começou a ser criada nos anos 80 e 90 uma nova burguesia local na Madeira, que conhecemos atualmente como os DDT (Donos Disto Tudo), famílias com apelidos, Farinha, Sousa, Pestana e Ramos. A entrada de Portugal na UE, veio trazer um mundo de oportunidades e fundos europeus para estes DDT se aproveitarem e enriquecerem. Em troca financiam e fazem os possíveis para perpetuar o regime do PSD, que os criou. 

Paralelamente começou a febre da contratação pública. O PSD enquanto governo começou a contratar em massa funcionários públicos de todo o tipo, assistentes operacionais, assistentes técnicos, motoristas, técnicos superiores mal estes terminavam os cursos no continente, estando lançado o mote para uma rede de influências infindável. De acordo com os últimos dados do PIB regional de 2022, o peso da administração pública no PIB é de 27%. O comércio e turismo pesam 32%. Assim se vê a amplitude da rede de influências na função pública. Todos temos ou um pai, mãe, avô, avó, irmão, irmã, tio(a), primo(a) ou cunhado(a), que trabalha ou trabalhou na função pública na Madeira. Estas famílias parece que sentem a obrigação de votar no PSD, porque foi o PSD que arranjou emprego para algum parente e continuam a votar, mesmo apesar do líder do PSD ser arguido e ter sido alvo de buscas numa megaoperação judicial.

Existe ainda um outro fenómeno feito pelo PSD que é a distribuição de subsídios pela arraia miúda. Em 2022 de acordo com as Contas Regionais, o governo regional gastou 120M€ em transferências e subsídios para associações desportivas e culturais, clubes do berlinde, da bisca e disto e daquilo, casas do povo, lares privados, escolas e infantários privados, pessoas individuais, empresas, etc.

Temos ainda o humilde e bom povo das zonas rurais, vulgarmente e até depreciativamente chamados de “vilhoada” pelas gentes da cidade, que muitos deles ainda são analfabetos ou tem pouca literacia e continuam a votar no “Pupudê” por reminiscências da figura populista de Alberto João Jardim. Não lhes interessa, pessoas ou políticas, é PPD para a vida toda.

Perguntam-me muitas vezes porquê que não é assim nos Açores. Porque os Açores são nove ilhas e não existe a concentração populacional, nem a concentração de poder que existe na Madeira. Cada ilha tem a sua especificidade, os seus domínios, e se calhar o povo não vê com bons olhos virem indivíduos de outras ilhas mandar na ilha deles, tal como nós madeirenses não vemos com bons olhos o poder centralista de Lisboa.

A conjugação destes vários tentáculos do polvo, fazem sempre com que o PSD ganhe as eleições regionais na Madeira, por mais penalizado ou afetado que esteja na opinião pública, como se viu agora a 26 de Maio.

Enviado por Denúncia Anónima
Terça-feira, 28 de maio de 2024
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