A Hipocrisia do CHEGA em São Vicente e o Perigo do Fascismo à Portuguesa.
São Vicente, Madeira – 2025
Caros Vicentinos,
O que me espanta não é a postura do partido CHEGA em São Vicente, mas a aceitação quase passiva de muitos dos seus apoiantes, que, de forma paradoxal, se dizem ofendidos quando a crítica se volta contra eles. A hipocrisia parece ser o traço distintivo dos defensores dessa ideologia extremista: o CHEGA, que tem por hábito lançar acusações desmesuradas e discursos de ódio, agora se coloca como vítima daquilo que, em sua opinião, são ataques injustos à sua postura e às suas convicções. No entanto, essa vulnerabilidade que alegam ser alvo não é mais do que a manifestação de um jogo de poder em que a liberdade de expressão é distorcida, manipulada e, por fim, silenciada.
Antes que me acusem de ser mais um daqueles que "falam mal do CHEGA", como se isso fosse um pecado maior do que a própria desinformação e autoritarismo que eles promovem, vou esclarecer algo: o que está em jogo não é apenas uma questão de preferência política, mas a própria natureza da democracia, da liberdade de expressão e da dignidade humana. O CHEGA, tal como os outros partidos da extrema-direita, atua em um espaço que vai além da política comum – ele se posiciona como uma ameaça à própria essência da nossa República, que foi conquistada com tanto esforço, sacrifício e sangue pelos nossos avós e pais em 25 de Abril de 1974.
O que o CHEGA faz, e faz bem, é manipular a opinião pública, distorcer factos e criar uma narrativa onde, de um lado, temos a "nossa causa" – uma causa que, segundo eles, é a única legítima – e, do outro, os "inimigos", qualquer um que ouse questionar as suas opiniões simplistas e dogmáticas. Aqui em São Vicente, a figura de José Carlos Gonçalves se apresenta como um protetor da verdade absoluta, um salvador que, por sua vez, se recusa a ser criticado.
No entanto, como já disse em outras ocasiões, quem não quer ser criticado não deve criticar os outros. A postura do CHEGA é a de uma constante vitimização, como se a sua ideologia fosse uma bandeira indiscutível, intocável, enquanto qualquer crítica a ela seja um atentado à liberdade. Digo, então, que esta liberdade de expressão que tanto prezamos deve ser igualmente respeitada, seja contra os políticos da esquerda ou da direita, mas principalmente contra aqueles que querem corromper a nossa história e os direitos fundamentais que construímos. Quando o CHEGA se sente atacado, eles chamam a isso de "fake news", "difamação" ou "mentiras", mas esquecem-se de que a crítica é uma ferramenta essencial para o funcionamento saudável de qualquer democracia.
Há uma ironia incomensurável em ver os apoiantes do CHEGA em São Vicente se comportarem como "putas ofendidas" quando alguém se levanta contra as suas ideias. Esses mesmos que defendem discursos de ódio, que alimentam um clima de divisão e intolerância, agora se apresentam como vítimas de uma perseguição política inexistente. Mas quem é, de facto, o verdadeiro alvo de perseguição aqui? São os cidadãos que querem ser ouvidos, que se rebelam contra uma ideologia que se propaga através da ignorância e da violência simbólica.
Em última análise, o CHEGA se assemelha a um partido que ignora os princípios que regem a liberdade e a democracia. A democracia não é apenas o direito de votar, mas também o direito de questionar, de desafiar, de provocar o pensamento crítico. Este partido, com seu populismo rasgado, age como um reflexo moderno daquilo que o fascismo representa: a ideia de que a verdade é única, que a discussão é desnecessária e que a liberdade de expressão deve ser limitada quando está em jogo a sua própria sobrevivência política.
E é aqui que reside o perigo. Quando falamos de uma ideologia como a do CHEGA, falamos de uma ideologia que visa silenciar a oposição, que busca minar os pilares da liberdade e da justiça. O fascismo nunca diz diretamente o que quer, mas sutilmente se infiltra, manipula, e destrói o que demorou décadas a ser conquistado. É uma ideologia que, tal como o Estado Novo de Salazar, se alimenta da repressão e da censura, do medo e da indiferença.
Eu não gosto do CHEGA. Não gosto do que eles representam, nem do líder nacional André Ventura, nem do líder local José Carlos Gonçalves. Não gosto das suas políticas, nem das suas promessas vazias que só visam dividir a sociedade portuguesa. E, como muitos de nós sabemos, a democracia é construída pela pluralidade das ideias, pela liberdade de quem pensa e age para melhorar a nossa terra. Se o CHEGA quer, a todo custo, monopolizar a verdade, que o faça. Mas não me calarei diante de um movimento que tenta reescrever a nossa história e que nega o direito de outros pensarem livremente.
A memória histórica, que é profundamente ligada à nossa liberdade, não pode ser manipulada para agradar aos interesses de um grupo extremista que só conhece uma linguagem: a do ódio e da imposição de suas convicções. O nosso 25 de Abril de 1974, a nossa Revolução dos Cravos, foi um grito de liberdade e justiça, um movimento que afastou de nós a ditadura do Estado Novo e, com ela, o cheiro fétido do autoritarismo. Não podemos permitir que, em pleno século XXI, a liberdade conquistada seja posta em risco por um grupo político que não tem vergonha de manipular a democracia para seus próprios fins.
Para quem ainda não entendeu a gravidade da situação, e para os desinformados que se prestam a ser utilizados como massa de manobra de um projeto que visa impor a censura, o medo e a mentira, não há mais tempo a perder. A história nos mostra que os regimes autoritários não surgem da noite para o dia, mas se alimentam de pequenos passos, de pequenas concessões, de silenciosos gestos que parecem inofensivos no início. Por isso, a única resposta legítima a qualquer movimento que ameace a nossa liberdade e dignidade é a firmeza, a resistência, e a afirmação da nossa vontade de viver em uma sociedade democrática e plural.
São Vicente não pertence ao CHEGA. São Vicente pertence aos Vicentinos, a todos nós, independente das nossas ideologias, das nossas crenças ou da nossa orientação política, sejam eles que votaram no CHEGA, no PSD, no PS, na CDU ou em nenhum. Quem pensa que as críticas estão proibidas está fora do regime democrático. A luta pela liberdade e pelos direitos não é algo do passado, é uma tarefa diária, uma responsabilidade coletiva.
Viva a Democracia! Viva a Liberdade! Fascismo nunca mais!
Autor: Um cidadão vicentino que preza a liberdade e a democracia acima de tudo.
— Fim —