U m salto direto... para trás. Há decisões que nos deixam sem palavras e esta é uma delas. A Universidade da Madeira, situada no meio do Atlântico, com todo o potencial de ser uma ponte entre a Europa e o mundo, decide firmar um protocolo com… Cuba.
Sim, Cuba.
Não com uma universidade europeia de referência, não com uma instituição que pudesse abrir portas à inovação, à mobilidade ou à ciência moderna.
Não — com um país fechado, censurado e economicamente de rastos.
É o equivalente académico de querer combater a ultraperiferia… aprofundando-a.
Como se, para escapar ao isolamento, tivéssemos decidido mergulhar nele com entusiasmo.
O discurso oficial fala de “cooperação académica” e “intercâmbio científico”.
Bonito.
Mas alguém acredita que o futuro da investigação madeirense passa por laboratórios onde faltam reagentes, internet e, em muitos casos, liberdade académica?
Ou será que se trata de mais um gesto simbólico — desses que soam bem em comunicados, mas não produzem nada de útil no terreno?
Enquanto universidades europeias investem em parcerias com centros de excelência em tecnologia, medicina, energias renováveis e inteligência artificial, a UMa prefere um protocolo com uma instituição onde enviar um e-mail pode demorar uma semana.
Talvez seja uma nova estratégia pedagógica: estudar a burocracia e a censura in loco.
Ironias à parte, o que choca é a falta de visão.
A Madeira, tantas vezes esquecida, precisava de alianças que a aproximassem do continente, que a projetassem na rede europeia de conhecimento, que reduzissem a tal “ultraperiferia” que tanto se invoca.
Mas a escolha foi o contrário: um gesto político travestido de cooperação académica.
E, claro, tudo isto é embrulhado num discurso de “solidariedade entre povos” — expressão que, na prática, significa “ninguém sabe bem o que fazer, mas soa bonito”.
No fim, resta a pergunta que ninguém faz em público:
quem ganha com isto?
Certamente não os estudantes, nem os investigadores.
A Universidade da Madeira tinha o mundo inteiro para escolher — e escolheu virar-se para uma ilha onde o tempo parou.
Não é só estupefação. É quase uma metáfora perfeita da própria gestão universitária: quando se podia subir, decidiu-se rodar em círculos.