A lição do lince


R ompeu nas redes sociais e, pouco depois, nas notícias, a história de um lince que foi retirado do seu lar e afastado da sua “família” por se tratar de um animal selvagem, impróprio para o espaço doméstico e familiar.

Como é que este lince veio cá parar? Como é que até aqui foi transportado? Foi comprado? Nesse caso, quem o vendeu? Sabiam os tutores que infringiam a lei? Como é que se tomou conhecimento da existência deste animal? Nada disto interessa, pelo menos por agora.

A história do lince emocionou jovens e graúdos, citadinos e camponeses, empresários e funcionários públicos, influencers, associações, editoriais de jornais, entre muitos outros. Tanto se falou... tanto se fala ainda.

Foi gerada uma onda de solidariedade em torno do destino deste animal: é preciso cumprir a lei, reconheceram... mas nem sempre... há exceções e esta devia ser uma delas. O sentimento maioritário foi sempre o de que o justo, correto e humano seria devolver o animal aos seus tutores. Afinal, o lince selvagem fez-se doméstico. As imagens comprovam-no. O seu lar é em casa, no conforto e aconchego da sua “família” e não num qualquer jardim zoológico, a servir de atração aos que procuram encontrar selva no meio do betão. 

Diga-se, só quem nunca perdeu um companheiro de estimação é que pode ficar indiferente e não partilhar a dor, ainda que à distância, desta separação.

A devolução do lince estabelece um precedente? Não cumpre com a lei? E se amanhã for um tigre, um urso ou uma foca? Nada disto interessa, pelo menos por agora.

Em poucas horas conseguiu-se uma petição carregada de assinaturas. Distribuiu-se o e-mail de quem tinha poder para mudar a situação, convidando o conhecido e o desconhecido a exprimir desagrado e a manifestar, por escrito, o que devia ser feito.

E foi assim que, do nada, surgiu um autêntico movimento popular. Do nada o povo (no verdadeiro e mais real sentido da palavra) uniu-se em prol de uma causa comum. Vendo bem, não foi o lince nem os seus tutores... foi o sentimento de injustiça que os uniu e que os motivou. Foi a consciência de estar a fazer o certo (quer seja efetivamente certo ou não). Foi saber que se não for eu mais ninguém o fará, e é preciso alguém fazê-lo.

Seja como for, a verdade é que a pressão da população, amplificada pelas redes sociais e comunicação social, fez com que em pouco tempo o lince tenha voltado ao seu lar. Talvez não definitivamente, mas isso não interessa, pelo menos por agora. 

O que verdadeiramente interessa é perceber que o poder existe e está nas mãos de um povo unido, que sabe o que quer e não tem medo de dar a cara e de lutar pelo que acha ser o certo. Que a esperança, empatia e o sentido de justiça são armas poderosas.

É pena que esta união, esperança, cooperação, solidariedade, comunicação, empatia e, acima de tudo, este sentimento ardente de sair do sofá e fazer o que deve ser feito se fique pelo lince.... Imagine-se se tal fosse utilizado para lutar por outros valores e/ou contra outras situações que acontecem nesta ilha.

Quando é que vamos descobrir que a desunião, o medo, a falta de empatia, de cooperação e de comunicação apenas ajudam a manter quem já lá está e não quer sair? E se tal dia chegar, será que haverá algo para salvar ainda? Será que ainda não se percebeu porque é que é importante não existirem muitos “linces”?

Que se retenha pelo menos a lição do lince: o verdadeiro poder está nas mãos do povo e à distância de um “lince”. 

Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 31 de julho de 2024
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