Os dias mágicos das publicações.


O doce encanto de dezembro em Portugal, essa época mágica em que o espírito natalício anda de mãos dadas com a arte da discrição institucional. Entre o bacalhau da Consoada e o champanhe do Réveillon, há algo de especial no ar – não, não é o cheiro a rabanadas, é o inconfundível perfume das decisões estratégicas tomadas sob o manto da quadra festiva.

Começa ali a 25 de dezembro, quando o país está estrategicamente distraído a digerir perus e reconciliações familiares forçadas. É exatamente nesse momento que, nos bastidores, têm lugar as mais delicadas provas académicas para professores universitários. Nada reflecte melhor o espírito da época do que subir na carreira enquanto o resto do país mergulha no coma açucarado do bolo-rei. É quase como um conto de Natal, mas com mais bibliografia e menos neve.

E depois há aquele espetáculo único que é a última semana do ano. Enquanto todos fazemos um esforço hercúleo para enfiar as calorias do Natal em calças apertadas para o jantar de passagem de ano, alguns visionários dedicam-se a tarefas nobres, como a aprovação de leis de ordenamento do território. É uma tradição tão portuguesa quanto o brinde com espumante – afinal, que melhor altura para decidir o futuro urbanístico do país do que quando ninguém está a prestar atenção?

E claro, como o espírito empreendedor não tira férias, eis que, simultaneamente, surgem novas imobiliárias com sócios iluminados – os mesmos que, por coincidência do destino (ou obra de um milagre natalício), participaram na elaboração das ditas leis. É um verdadeiro milagre de multiplicação: uma lei, várias oportunidades de negócio, zero perguntas inconvenientes.

Afinal, dezembro não é só sobre solidariedade e reflexão. É também sobre eficiência. Num mês conseguimos celebrar o nascimento do menino Jesus, criar mecanismos discretos de avaliação académica, aprovar legislação de alto impacto e, cereja no topo do bolo, dar um empurrãozinho ao setor imobiliário. Tudo isto enquanto garantimos que o país continua distraído com luzinhas a piscar.

Há quem diga que Portugal é um país lento, mas o fim de dezembro prova, em particular na Madeira que, quando queremos, somos verdadeiros velocistas da decisão estratégica. Pena é que o fogo-de-artifício de ano novo não ilumine certos processos tão bem quanto ilumina os céus.

Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 29 de Janeiro de 2025
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