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Propaganda paga pelo erário público? Campanha permanente? |
N o dia 19 de maio de 2025, pelas 21h, em plena Festa da Flor, evento financiado com dinheiros públicos, assistiu-se na Placa Central da Avenida Arriaga a um espetáculo que mais parecia um ensaio aberto do compadrio regional. No palco, o Presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, ao piano. A acompanhá-lo, a cantora Vânia Fernandes, conhecida localmente e, curiosamente, professora de canto do filho do próprio Presidente. A cereja em cima do bolo: Luís Nunes, dono da empresa de som contratada para o evento, a atuar também como artista. Tudo isto com recurso ao erário público.
Parece piada, mas não é. Estamos perante um claro conflito de interesses, mascarado de gala cultural. O próprio contrato público, acessível via BASE.gov.pt, revela que a empresa Maria Isabel Melo Borges Castro Unipessoal, Lda., alegadamente usada como testa de ferro, foi contratada por 98.790,00€ para prestação de serviços técnicos de som, luz e vídeo. Isto por ajuste direto, como é habitual neste tipo de arranjos. Não há registo claro nem transparente sobre os cachets pagos aos artistas, mas sabemos quem aparece em palco e quem lucra nos bastidores.
Luís Nunes, o manda-chuva do som na Madeira, contratualiza os serviços, fatura pelo fornecimento técnico e, ainda assim, sobe ao palco como baixista. Junta-se à já mencionada Vânia Fernandes, numa atuação conduzida ao piano por Miguel Albuquerque, o Presidente que gere os fundos públicos com uma mão e promove os seus protegidos com a outra.
É a política cultural transformada num cabaré institucional, com orquestra paga pelo contribuinte e cartaz escolhido no seio do compadrio.
Não está em causa o talento dos envolvidos. Está em causa a indecência do processo. A promiscuidade entre cargos públicos e interesses privados. A falta de concursos públicos, a repetição dos mesmos nomes, o rodízio entre os de sempre. A cultura que deveria ser plural e transparente tornou-se um clube de privilégio fechado, onde os amigos do regime tocam, faturam e continuam no topo.
Já nem a imagem é disfarçada. Diz-se, à boca cheia, que a triangulação entre Albuquerque, Vânia Fernandes e Luís Nunes é de tal forma descarada que até a Máfia de Chicago aplaudiria. Afinal, o que ele não consegue matar em palco, enterra no cartaz, e sempre com fatura em nome de outrem.
Enquanto isso, os madeirenses assistem a uma escalada no custo de vida, habitação incomportável, jovens a emigrar em massa, uma vida noturna falida e uma economia a sangrar. E o Presidente? Passa os dias a gravar vídeos, a fingir ser acessível, enquanto veste Tom Ford, fala latim de segunda mão, grava receitas gourmet em cozinhas emprestadas, vídeos sem sentido e até tem direito a estúdio emprestado para suas entrevistas aos preferidos do regime.
A quem serve esta festa? À cultura? Ao povo? Ou apenas a um regime que se perpetua com flores e favores?
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