O caos em quatro rodas e a duas patas.
E stou a delirar em pensar nos carros das renta-a-cars todos de passeio e o povão a subir à serra nos seus carros para ver o Rali da Madeira com carros que bloqueiam estradas. Não era de terraplanar um pedaço de Laurissilva para estacionamentos.
Rali da Madeira, altura mágica do ano em que as estradas da ilha, já de si um labirinto, se transformam num cenário apocalíptico para o comum dos mortais. E este ano, meus amigos, a coisa promete ser épica! Porque se há algo que a Madeira tem em abundância, para além de paisagens de cortar a respiração, são... rent-a-cars! Vai ser o primeiro ano de rali e boxe, uma inovação da Madeira da Vanguarda PRR ao bolso.
Dizem as más-línguas que as empresas de aluguer de carros já não recebem indemnização, porque o Rali da Madeira passou a ser, oficialmente, o evento de marketing anual das rent-a-cars. Não admira! Com tantos carros alugados a circular por metro quadrado, a ilha parece um gigantesco stand de automóveis à espera de um sinal para a largada. Que sustentabilidade maravilhosa, do Atlântico, somos os maiores. Era cortar o carbono, mas temos medalha de ouro por subir exponencialmente. Descansem que eles sabem tirar amostras do ar, no melhor início de ano de sempre nos cruzeiros que fumegam.
Vai ser lindo, é Verão e se calhar é de aconselhar o gado de duas patas a ficar na serra 3 dias a ver o mesmo sol a nascer por causa do rali. Os carros com tenda esgotaram e algum turista vai tentar levá-lo no trilho até ao idílico já que não pode passar na estrada. O senhor Joaquim, taxista há 40 anos, com o seu Mercedes de estimação, tenta fazer a sua rota habitual, ainda bem que o valor é por volta porque de taxímetro no mesmo lugar seria inglório. De repente, depara-se com uma placa: "Estrada Encerrada - Rali da Madeira". Resmunga, vira à direita, e outra, e outra e outra.
Que vingança do povão, 3 dias a dar cabo do juízo das rent-a-cars. Aproveitem para legalizar mais os mais 200 carros da semana, se estiver alguém no trabalho. É tão bom infernizar as rent-a-car, a dos bons conselhos para circular por fora nas rotudas e já têm medo de meter o autocolante...
A dona Ermelinda, com as suas cesta de legumes de norte para sul pára algures e vende tudo mesmo cru ao gado esfomeado, é que tem fila de 2km para o supermercado mais próximo, vá lá que se pode fazer os "precisos" na floresta. O autocarro está parado, bloqueado por uma caravana interminável de Yaris, Clios e T-Rocs alugados. A malta sabe os caminhos do cór e salteado mas os turistas com mapas desdobrados até ao chão e olhos esbugalhados não entendem nada com as estradas fechadas e o GPS que não ajuda, lá se foi a busca do "miradouro mais instagrável".
O Rali da Madeira deixou de ser apenas uma prova de velocidade. Tornou-se um espetáculo cómico, um teste à paciência dos madeirenses e um labirinto de quatro rodas para os turistas que, coitados, só queriam uma semana de sol e poncha. Que venha o rali, e que os deuses dos alugueres nos salvem do engarrafamento eterno!
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