Quais são as "linhas vermelhas" da ARAE?


P retendo tocar em feridas profundas da realidade social e política da Madeira, expondo uma sensação de injustiça que muitos partilham, a ideia de que a lei é "cega" para uns, mas tem "visão de águia" para outros! Ou o célebre coar mosquitos para engolir camelos!

A atuação da ARAE em Santana levanta uma questão ética fundamental, por que razão o rigor aplicado à "vendedora de ovos" (e outros) não se reflete com a mesma agressividade nas grandes superfícies? É uma dualidade de critérios entre gigantes vs pequenos ou não levam a comunicação social atrás? Enquanto pequenos produtores são punidos por falta de etiquetas, os supermercados praticam a reduflação (diminuir a quantidade mantendo o preço, ou aumentando para fazer desconto) com etiquetas!!! Entre outras estratégias de rotulagem confusas que induzem o consumidor em erro, nomeadamente a esconder açucares e outros.  O "assalto" manhoso e silencioso é permitido e a venda simples não?

Não vejo a ARAE em cima dos aldrabões dos supermercados e seus truques para extorquir dinheiro aos clientes por cada vez menos produto, porquê? Eles sabem fazer as coisas como os governantes que sabem "roubar"? Os inocentes sem informação para "aldrabar", de vida simples e poucos ganhos é que são frágeis para a ARAE mostrar a sua força... enquanto amigos estão salvaguardados? Pararam as rusgas a restaurantes quando há cada vez mais duvidosos na higiene de imigrantes de sítios pouco dados a isso? O crescimento de estabelecimentos geridos por novos fluxos migratórios, muitas vezes sem ligação à cultura de segurança alimentar europeia, é uma preocupação real de saúde pública. Se a ARAE parou as rusgas nestes locais, mas tem tempo para perseguir o pão tradicional de Santana, há uma inversão de prioridades.

A ARAE vai continuar a permitir negócios de fachada no Funchal para fazerem tráfico de pessoas e esclavagismo moderno das máfias dos imigrantes? A denúncia de "lojas de conveniência", e outros negócios que servem de fachada para tráfico de pessoas e escravatura moderna, acham que é irreal o que se passa no continente e não foi transferido para a Madeira? Ainda por cima com menos tempos de espera (burocracia) e protegidos pelos empresários do regime por quererem mão de obra barata... para "pontapear" os madeirenses com direitos? A pergunta impõe-se, a ARAE e o SEF/PSP estão a olhar para onde realmente dói à sociedade, ou apenas para onde é fácil multar?

A autenticidade do destino Madeira não se perde apenas pela falta de pão, perde-se quando se permite que a higiene e a dignidade laboral sejam sacrificadas em prol de negócios obscuros. Uma barraca a céu aberto esconde falta de higiene?

Os amigos da Avenida Arriaga e o monopólio dos Bares e Snack Bares são outros a evitar, sobretudo porque a dupla tem língua grande e poder político, mas em Santana é gente simples num concelho da oposição?  Existe a perceção de que o grande capital (não sou comuna) e os amigos "sabem" navegar na burocracia, ou têm influência para a moldar, enquanto o cidadão comum, de vida simples, é o alvo fácil para "fazer estatística" de fiscalização.

A apreensão de ovos e a proibição de pão tradicional por questões de rotulagem roçam o ridículo num contexto de economia circular e local. Falsificar o natural? Como se falsifica um ovo? A obsessão pela etiqueta num produto que vem diretamente da galinha para o mercado local é impressionante. Punir por ovos partidos ou sem carimbo é, na prática, impedir que o pobre comercialize o pouco que tem. Quantas vezes vêm ovos partidos nos embalados? Se a origem política da produção fosse outra, haveria tanta pressa em destruir o produto? Na cena dos ovos partidos de Santana, tenho várias perguntas para fazer, partem para que depois não sejam acusados de levar de borla? Como é que se falsifica ovos? A etiquetagem é assim tão necessária? Se a galinha poedeira fosse do PSD atuavam? Ainda assim poderíamos falar da antiguidade dos ovos, mas um vendedor arrisca isso ou acham possível deixar ficar com os ovos velhos nos tempos que correm, um bem de proteína barata para os pobres que aumentam na realidade, mas escondendo nas estatísticas e dificultando o acesso a subsídios?

Os municípios deveriam ter uma empresa para funcionar, e não ser razão para tachos, que assumisse a burocracia dos pequenos produtores para embalagem e etiquetagem, ao abrigo da lei, se não querem que o autêntico desapareça. A preço de custo só para cumprir a lei, não para inviabilizar de novo o pequeno produtor. Não mais GESBAS ou coisas do género.

O que aconteceu em Santana não é apenas um acto de fiscalização sanitária, é um símbolo de um sistema que parece desenhado para proteger o industrial e o influente, enquanto asfixia a subsistência e a cultura do povo madeirense.

Se não houver produtores é mais fácil abrir campos de golfe?