Túneis sem ar, Democracia sem oxigénio.


Q uem circula regularmente na via-expresso entre a Ribeira Brava, Ponta do Sol, Calheta e Ponta do Pargo conhece o cenário: ventoinhas instaladas, desligadas; túneis longos, carregados de fumo negro; ar irrespirável. A pergunta é simples e legítima: para que servem sistemas de ventilação públicos que não funcionam quando são mais necessários?

Por definição técnica, os gases de escape incluem monóxido de carbono, óxidos de azoto, partículas de carbono e outros poluentes. O fumo preto, denso e persistente, resulta de combustão incompleta e excesso de partículas. Não é opinião. É mecânica básica, saúde pública elementar e legislação ambiental clara. Em túneis, a ventilação não é um luxo: é uma obrigação de segurança e um dever do Estado para com os cidadãos.

Partamos de um facto inegável: túneis acumulam poluição. Sem ventilação ativa, essa poluição concentra-se. Daqui decorre uma conclusão lógica: desligar ventoinhas é expor condutores e trabalhadores a riscos evitáveis. Isto não é azar, nem meteorologia. É decisão, omissão ou incompetência. Escolha-se o termo.

O mais perturbador é o silêncio cúmplice. A Calheta, concelho conhecido pela fidelidade ao poder regional, convive com alguns dos piores túneis da Madeira. E protesta pouco. Talvez por hábito. Talvez por medo. Talvez por confundir lealdade partidária com resignação cívica. Em democracias saudáveis, a proximidade ao poder aumenta a exigência. Aqui, parece anestesiá-la.

A política pública mede-se na implementação, não nos discursos. Ventoinhas paradas simbolizam governação parada. Túneis sujos revelam prioridades invertidas. Lavar túneis, ativar ventilação, monitorizar qualidade do ar: existem meios, máquinas e normas. Falta vontade, foco e responsabilidade.

Este problema é testável e verificável. Basta ligar os sistemas, medir partículas, publicar dados. Se o fumo desaparecer, o argumento cai. Se persistir, confirma-se a denúncia. Transparência resolve. Opacidade adoece.

No fim, a questão é moral e democrática. Governar é proteger a vida quotidiana, não gerir silêncios. Quem respira fumo não respira confiança. Quem aceita isto perde esperança. A Madeira merece melhor. Exigimos túneis limpos, ar respirável e respeito básico. Sem filtros. Sem desculpas. Sem fumo.