Os fatos dos fascistas.


O meu texto resulta de uma conversa de café com amigos a contemplar funcionários públicos a sair do emprego. É conversa de reformados, mas espero que interesse aos novos que sinto que andam muito longe das realidades.

A ntigamente, antes da revolução, as pessoas que usavam fato eram conotadas com o regime fascista em Portugal. O povo era pobre e maltrapilho. É um facto esquecido, conversas do povo durante o Estado Novo (1933-1974).

Isto veio à baila na nossa mesa pela forma como estes meninos do poder estão no modelo do fascismo, mauzinhos e bem vestidos, é um estatuto na amálgama de gente fraca que alcança o lugar dos valorosos. Esta conotação não se baseia numa regra oficial ou numa imposição direta do regime, mas sim numa associação visual e social que se desenvolveu ao longo das décadas. É que só eles do regime viviam...

O uniforme dos oficiais e dirigentes, especialmente fato e gravata, era o vestuário padrão dos membros do governo, funcionários públicos de alto escalão, militares de alta patente, membros da polícia política (PIDE) e outros elementos ligados ao poder. Os indivíduos que representavam a autoridade e a repressão do regime, usavam o fato como parte da sua imagem institucional. Os queques do poder dos nossos dias ... é tal e qual, "importantes", vazios e paus mandados. O fato é importância e abafa a podridão toda, muito gostam de se fazer próximos das cúpulas. Tantas décadas e o novo regime faz ricos e mantém o povo pobre, tal como no fascismo. E agora o PSD está fascizante para ver se colhe algum deputado do Chega.

Numa sociedade onde a maioria da população vivia em condições económicas mais modestas e vestia roupa mais simples, macacões de trabalho, roupas regionais, etc, o fato destacava-se como um símbolo de estatuto, poder económico e, por extensão, de proximidade com o regime. Era o vestuário daqueles que mandavam, dos "senhores doutores" e dos que tinham influência. A diferença era gritante. Enquanto o povo, sobretudo nas zonas rurais e operárias, vestia roupas mais modestas e funcionais, o fato representava um distanciamento e uma elite que muitas vezes era vista com desconfiança ou medo, precisamente por estar associada ao controlo e à repressão do regime.

Por vezes, a expressão "os fatos" ou "os que andam de fato" era usada de forma coloquial para se referir, de forma generalizada e pejorativa, aos elementos do regime ou a quem o apoiava. Era uma forma rápida de identificar quem estava "do lado de lá".

Curioso é que depois do 25 de Abril de 1974, esta conotação manteve-se por algum tempo, e o fato, em certos contextos, continuou a ser visto com alguma desconfiança, associado a um passado de autoritarismo. Os vendidos que passaram impunes para o novo regime. No entanto, com a democratização e a normalização da moda e das profissões, o fato perdeu progressivamente essa conotação negativa e tornou-se simplesmente um tipo de vestuário formal, sem o peso político que teve no passado. Mas, nos nossos dias, o que vai mostrar um incompetente de concurso de emprego por ajuste direto? A imagem. Tal como no passado, o fato destes seres menores são um exemplo fascinante de como a moda e o vestuário podem adquirir significados sociais e políticos muito específicos num determinado contexto histórico, até aos dias de hoje.

É daqui que nascem os termos "Fachos" / "Fascistas", "Pides", "Bufos", "Doutores", "Capatazes" / "Comandantes" Estas "alcunhas" ou "semânticas" eram usadas no "seio do povo" de forma mais ou menos aberta, dependendo do grau de repressão local e do medo da PIDE. Eram uma forma de expressar o ressentimento, o desdém e a revolta contra aqueles que representavam ou apoiavam o regime autoritário.

Quando vejo a carinha e o fatinho de muitos a sair do Governo Regional, eu e outros pensam nisto.

Nota: amigos de café, boca fechada! Olha a PIDE!

Enviar um comentário

0 Comentários