A s ditaduras são mestres na arte de moldar a percepção da realidade, construindo ambientes que, à primeira vista, podem parecer vibrantes e cheios de vida, mas que, na verdade, servem a um propósito sinistro: manter a população distraída e dócil. É um teatro de ilusões onde o palco é a vida quotidiana e os atores somos todos nós, compelidos a seguir um guião predefinido.
Faz-me muita impressão sobre quão fácil é enganar os madeirenses.
O controlo da informação é a pedra angular desta estratégia. Os jornais e outros meios de comunicação são cuidadosamente orquestrados, não para informar, mas para entreter e glorificar o regime. Espere encontrar as páginas iniciais repletas de:
Muito desporto: Vitórias desportivas são inflacionadas, tornando-se símbolos do sucesso nacional e da superioridade do regime, desviando a atenção de problemas mais prementes.
Eventos sociais e curiosidades: Festas da alta sociedade, crónicas de costumes e histórias inócuas preenchem o vazio deixado pelo jornalismo de verdade, criando a sensação de normalidade e prosperidade.
Rotação constante de destaques do poder: As figuras do regime são apresentadas sob uma luz benevolente, com as suas ações e "conquistas" repetidamente exaltadas, solidificando a sua imagem de líderes infalíveis.
Ausência total de jornalismo de investigação: Perguntas incómodas, escândalos de corrupção ou falhas governamentais são tabu. O que não é reportado não existe.
Textos de assessores de imprensa: A linguagem oficial é a única permitida, pasteurizada e sem crítica, garantindo que a narrativa do regime seja a única voz ouvida.
Paralelamente a esta lavagem cerebral mediática, as ditaduras investem massivamente na produção de eventos e festividades populares. As agendas culturais e recreativas transbordam de:
Festas de frutos, de agropecuária, santos populares: Celebrações de tradições locais são incentivadas, criando um sentido de comunidade e identidade que, embora genuíno em sua base, é cooptado para servir aos interesses do regime. A alegria e a união destas festividades mascaram a falta de liberdade e de voz política. As casas do povo recebem rios de dinheiro...
Festivais de verão, festivais das câmaras municipais, semanas gastronómicas, eventos das casas do povo: Uma miríade de atividades culturais e gastronómicas inunda as cidades e vilas. A premissa é simples: um povo ocupado e entretido tem menos tempo e inclinação para pensar criticamente ou questionar o poder.
Pacotes de TV cabo com canais desvirtuados: Mesmo com a aparente pluralidade de canais, a programação é subtilmente direcionada. Notícias internacionais são filtradas, documentários podem ser censurados, e o entretenimento predominante reforça valores que não ameaçam o status quo. A diversão superficial substitui o acesso a informação pluralista.
Páginas nas redes sociais com casos do dia, curiosidades, inusitados, fait-divers, etc.
Este ambiente surreal cria uma bolha, uma realidade paralela onde a perceção de "tudo estar bem" é constantemente reforçada. As pessoas são encorajadas a viver num presente sem grandes preocupações, onde a obediência e o conformismo são recompensados com a "paz" e a "segurança" garantidas pelo regime. A consequência é uma população que se habitua à ausência de responsabilidade crítica, onde a introspeção sobre a verdadeira condição social e política é atrofia. A ditadura, ao invés de controlar apenas os corpos, controla as mentes, transformando a vida em um eterno festival sem substância, enquanto a liberdade se esvai silenciosamente.
"Madeira cresce "fulgurante" e atinge recordes económicos"... e a população cada vez mais pobre.
Sabe porque gosto do Madeira Opina? É um repositório para consultar depois da Madeira ir à parede, afinal muitos informaram mas a maioria prefere festa e realidades paralelas.
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