Monte Negro


Caro Luís Montenegro,

D eixe-me contar-lhe uma pequena história – daquelas que deviam ser ficção, mas infelizmente são bem reais – sobre o que um cidadão madeirense tem de passar para, imagine só, viajar até Lisboa ou Porto.

Você sabia que, para sair da Madeira e pôr os pés no continente, um madeirense tem de adiantar 600 euros? Sim, 600. Não é para ir para Nova Iorque ou Tóquio, é só para atravessar o mar até ao mesmo país onde nasceu. Um luxo, não acha?

Mas a aventura não acaba aqui. Depois de pagar esse valor obsceno, vem a gincana burocrática: o madeirense tem de juntar faturas, cartões de embarque, NIB, declarações, e mais papelada do que um processo no tribunal. Tudo isto para poder, imagine-se, pedir de volta uma parte do dinheiro que adiantou. E onde se faz isso? Na fila dos CTT – porque nada diz "modernidade" como perder tempo num balcão a implorar por um reembolso que há muito devia ser automático. Se for no início do mês, nem imagina a fila com os pobres dos idosos a quererem receber a sua reforma.

Diga-me, Luís: você acha isto justo? Acha que isto é normal? Acha aceitável que um cidadão português tenha de fazer quase uma romaria administrativa sempre que quer sair da sua ilha?

E, por favor, não tente empurrar a culpa para "o sistema". O Eduardo e o Miguel – esses mesmos, que andam sempre de sorrisos para a câmara, a cortar fitas e a brindar com poncha – também têm as mãos nisto. Eles fingem que está tudo bem, que está tudo resolvido, enquanto o povo da Madeira é tratado como cidadão de segunda categoria no seu próprio país.

Portanto, Luís, quando quiser falar em igualdade, coesão territorial ou justiça social, talvez queira começar por olhar para este inferno logístico e financeiro que é viajar sendo madeirense. Porque, neste momento, isto não é um país unido – é um país com ilhas esquecidas e governos distraídos e alegadamente corruptos. Imagine que isto acontecia na sua querida cidade de Espinho, quando você quisesse se deslocar para o Porto ou para Lisboa. Acharia justo Sr. Luís Montenegro?

Um madeirense cansado de ser liderado por um governo ilhéu desnorteado

Enviar um comentário

0 Comentários