O ar na cidade vai estar diferente, grande parte dos trogloditas que infernizam a vida dos outros sobem à montanha para marcar o ponto. Não é só a expectativa da Festa do PSD, é também um silêncio peculiar por outra razão. Há umas semanas, os motoristas de autocarros pararam quase tudo, porque desistiram dos sindicatos lambe-botas do PSD e aderiram a um do continente. A Madeira por primeira vez sentiu na pele o peso da sua ausência. Naquele dia, a ameaça foi clara: "voltaremos a parar, e será na festa do PSD".
Agora, a festa está aí. A questão paira no ar como um autocarro parado no meio da estrada: será que vão mesmo fazê-lo? E se fizerem, o que tem prioridade como serviços mínimos, a comunidade ou a Festa do PSD? Olha o Lobo Marinho, para a festa do PSD até fica no Porto Santo.
Os motoristas, esses, estão num misto de desafio velado e nervosismo contido. Entre eles, um sarcasmo quase palpável: quem será que vai ter a coragem? Quem vai ser o primeiro a ligar a chave e, quem sabe, o último a desligá-la? A união que mostraram há umas semanas está agora sob o escrutínio do próprio grupo, um teste de fogo à sua determinação. O medo da retaliação paira, claro, mas a vontade de mostrar o seu poder também é forte.
Do outro lado, o PSD, habitualmente tão confiante, tão seguro dos seus passos, parece agora um passageiro à espera do autocarro que nunca sabe se vai chegar. A incerteza é o motorista da vez, e o destino da festa está num suspenso, mas olha que pode ser uma bela desculpa para este ano numa festa que vai mingando. Farão eles um plano B? Terão já os seus próprios autocarros fantasmas para garantir que a festa não para? Ou confiarão na "sensatez" de última hora? Cá para mim vão montar a carraria do traz e leva dos dias de eleições.
O silêncio é a mais ruidosa das mensagens. E neste jogo de nervos, resta-nos esperar para ver se a promessa será cumprida ou se o medo, ou quem sabe, a divisão interna, fará com que os autocarros continuem a rolar, levando consigo a expectativa de quem assiste a este braço de ferro político e social. A contagem decrescente para a festa já começou. E para a greve, talvez.
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