Miguel de Sousa descobre que afinal o PSD está na oposição


P elos vistos, para Miguel de Sousa, o PSD-Madeira vive tempos de oposição. Só assim se explica que tenha aceite dirigir o Gabinete de Estudos do partido (link 1) (link 2), um organismo que, segundo o próprio, só faz sentido “quando o partido está na oposição”. Ora, como na Madeira o PSD nunca esteve verdadeiramente na oposição, o caso ganha contornos curiosos, quase clínicos. É uma espécie de esquizofrenia política: o partido está no poder, mas o seu gabinete pensa como se estivesse do outro lado da barricada.

Miguel de Sousa, com o seu habitual talento para o paradoxo, esclarece que os estudos do Gabinete são, afinal, os seus próprios artigos de opinião. O que significa que, décadas antes de o Gabinete sequer existir, ele já o dirigia, involuntariamente, através das suas crónicas. É um caso raro de autonomia temporal: um homem que liderava uma estrutura inexistente com base em textos publicados no jornal.

Sabemos que há teses de mestrado tão fracas que parecem artigos de opinião. Mas no caso de Miguel de Sousa, é o inverso: os artigos de opinião é que se transformaram em “estudos” partidários. Um feito notável de reciclagem intelectual — e uma poupança orçamental invejável para o partido.

Na prática, o cargo serve apenas para o colocar, por inerência, na Comissão Política Regional, de onde ficou de fora nas listas de Miguel Albuquerque. A nomeação, portanto, é menos uma questão de pensamento estratégico e mais uma questão de reintegração social partidária.

Assim, Miguel de Sousa não só prova que o PSD está em oposição (mesmo quando governa), como também demonstra que a oposição, no PSD-Madeira, começa sempre em casa.