O ataque vil e bárbaro, de matriz antissemita, ocorrido em Bondi Beach merece repúdio absoluto. Não há ambiguidades possíveis. Atacar judeus por celebrarem a sua fé é um crime contra pessoas concretas e contra a própria ideia de civilização. A liberdade religiosa não é um favor concedido pela maioria; é um direito básico, ou não é nada.
Convém perguntar, com frieza racional, o que distingue uma sociedade livre de uma sociedade do medo? A resposta é simples e incómoda. Numa, protege-se o indivíduo. Na outra, tolera-se o ódio desde que venha mascarado de causa. O Hamas e o autoproclamado Estado Islâmico não são “resistências”, nem “movimentos”. São organizações terroristas, que matam indiscriminadamente, glorificam a morte e desprezam a vida humana. Aqui não há meio-termo moral.
É neste contexto que certos gestos políticos e culturais europeus, boicotes simbólicos, exclusões selectivas, silêncios cúmplices, devem ser lidos com extremo cuidado. A História europeia ensina, com brutal clareza, que a expulsão dos judeus nunca foi um acidente isolado. Foi um processo. Começou com decretos e preconceitos, passou por conversões forçadas e culminou no extermínio industrial de seis milhões de pessoas. Da Península Ibérica do século XV à Europa arrasada do século XX, o padrão repete-se, primeiro normaliza-se o estigma, depois legitima-se a exclusão.
Vale a pena recordar outro facto empírico, muitas vezes convenientemente esquecido. A Europa tem sido alvo recorrente de terrorismo jihadista nas últimas décadas. Madrid, Londres, Paris, Bruxelas, Nice, Berlim, Manchester, Barcelona, Viena. Os números, as datas e os mortos não são opiniões. São factos. E ignorá-los não produz paz; produz amnésia estratégica.
Portugal, apesar das tensões diplomáticas recentes, mantém uma relação histórica e institucional sólida com Israel, assente em cooperação científica, cultural e económica, e numa herança judaica que também é nossa. Criticar políticas concretas é legítimo. Alimentar ressentimentos colectivos não é.
A justiça exige proporção, distinção e memória. Exige equilíbrio entre compaixão e lucidez. Quem confunde judeus com governos, ou fé com guerra, abdica da razão. E quando a razão abdica, a História avança, sempre na pior direcção.
Israel e as comunidades judaicas não são inimigos da democracia. São aliados naturais de uma ordem baseada na lei, na dignidade humana e na liberdade. Está na hora de travar, sem rodeios, o ressurgimento do velho veneno: o antissemitismo. Porque quando ele passa, nunca leva só um alvo.
Nota: políticas internacionais que também atingem a Madeira, porque somos uma terra de turismo.
