O negócio da saúde

 

C omo em qualquer profissão, existem os bons e os maus profissionais. Existem os bons mecânicos, os bons pedreiros, os bons médicos mas, o problema é que no meio da excelência existe uma meia dúzia de maus profissionais que estragam toda uma classe.

Nos dias de hoje, os maus médicos não curam as doenças, vão curando! E o cenário do mau profissionalismo é cada vez mais evidente. Em patologias que podem ser sanadas com uma simples cirurgia assiste-se a uma prorrogação de prazos por inúmeras consultas na busca do indispensável diagnóstico antes da previsível cirurgia porque isso dá maior retorno financeiro para o bolso do ferreiro.

Sou liberal por convicção, acredito na iniciativa privada e no empreendedorismo, mas não posso aceitar que o mesmo médico, que só pode dar meia dúzia de consultas diárias no Público em defesa duma pretensa qualidade da saúde, à tarde dê centenas de consultas no seu consultório privado. O que mudou? A área do gabinete? A cor das paredes?

Na prática a limitação do número de consultas no público cria uma fuga para o privado obrigando os doentes a um esforço suplementar no seu parco orçamento. Duas consultas por mês no privado, além dos inúmeros remédios que acabam no lixo, são menos 130€ que o cidadão que ganha o ordenado mínimo terá no seu bolso para ir a um cinema, poupar para uma máquina de lavar, ou no limite comprar um simples saco de arroz para alimentar a família.

O Governo Regional, muito recentemente, anunciou um protocolo com os privados, leia-se PPP-Parceria Publico Privada, para diminuir as listas de espera dos milhares que desesperam por uma vida digna. E o resultado é os mesmos Hospitais e Clínicas que recusaram doentes COVID, estão agora aptos a comer a carne deixando os ossos para o Público. Esperemos que seja uma PPP temporária e que não se tenha aberto a Caixa de Pandora para perdurar mais um negócio ruinoso para o bolso dos contribuintes. Se a intenção era criar parcerias privadas para tudo então porque gastar dinheiro num Novo Hospital?

A manter-se este cenário de protecionismo, o Novo Hospital não irá resolver nada e será mais um elefante branco na paisagem. Resumindo, teremos um edifício novo com os mesmos médicos e as mesmas meia dúzia de consultas por dia e as mesmas listas de espera.

Os políticos autistas ainda não se aperceberam que uma população doente e financeiramente debilitada não é produtiva, e sem produtividade não há riqueza criada ou economia sustentável que faça circular o dinheiro por todos. No fundo constrói-se casas, abre-se restaurantes e Centros Comerciais mas não haverá ninguém com dinheiro para alimentar esta economia porque gastaram tudo o que tinham na saúde.

Enquanto se espera e se desespera pela inauguração do Novo Hospital, a Presidente do SESARAM – que está a engordar a olhos vistos – já devia ter levantado o cú da sua cadeira e ter uma equipa multidisciplinar, formada para estudar uma nova estratégia, com soluções estruturantes e pioneiras, para o Novo Hospital. Se nada for feito teremos um edifício novo com as mesmas patologias, as mesmas avarias sistemáticas e consequentemente os mesmos vícios do hospital anterior. 

A classe médica é poderosa e isso viu-se no recuo do Presidente do Governo aquando da história da nomeação do tal Diretor Clínico, mas estou convicto que um pouco de coragem numa solução populista a favor de uma Saúde gratuita e célere é aquela que decidirá uma vitória ou uma derrota nas próximas Eleições Regionais. Fica o conselho.

A continuar assim, o capitalismo indomável vai acabar por matar o próprio capitalismo, e todos ficaremos a perder.

Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 3 de Junho de 2021 11:58
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