P artilho estes tópicos, na qualidade de produtor de banana da Madeira à quase 30 anos. Já vendi banana a mais de uma Cooperativa, na altura em que havia concorrência, não só na compra, mas também nos calotes aos produtores.
Cheguei ao ponto de partilhar estes pensamentos, devido à estupefação, angustia e tristeza com que assisto à atual “guerrilha” contra a atual e única empresa que gere o sector. Guerrilha habilmente manipulada por uns certos duendes que se instalaram em Gaula, que por coincidência também são pequeninos e sempre associados à cor verde. (1)
Tendo também tomado de assalto Santa Cruz, pretendem agora destabilizar a cultura mais estável e sustentável da Região, “Os duendes quando são bem tratados, ajudam nas tarefas domésticas, mas se ficam zangados podem aprontar das suas, azedando uma jarra de leite ou inventando pesadelos para atrapalhar nossos sonos.” (2)
Sei, à partida que serei criticado por manifestar a minha opinião de forma anónima. Faço-o, em primeiro porque preciso de tudo, menos de protagonismos. Qual é o produtor de banana que consegue contrariar as exigências de alguns em receber €1 por Kg de banana. Seria logo crucificado, chamado de louco pelos lunáticos que o exigem, alegando que estava do lado do sistema. É um pouco como a retórica de Hitler. Lembremo-nos que também conseguiu fanatizar milhões de alemães, com um discurso similar. O discurso nazi não se dirigia ao intelecto, deixava de lado a inteligência, que entorpecia. Era o fanatismo, a ferramenta dos inimigos daqueles que procuram uma explicação racional para fatos potencialmente explicáveis. (3)
Repito novamente que o anonimato vai desvalorizar as minhas palavras, mas como dizem os duendes, investiguem.
Não tenho “memória curta”, lembro-me de quase tudo o que se passou nos últimos 30 anos, aliás quase me esquecia de referir que pertenci aos corpos sociais de uma Cooperativa:
- Lembro-me das Cooperativas terem adquirido viaturas topo de gama para os seus diretores, e descapotáveis para uso particular, sem oposição de praticamente ninguém. Talvez por estarmos a ser pagos com o dinheiro dos produtores para estarmos presentes nessas reuniões, abanar a cabeça e a fazer de conta que éramos “gestores”. Sim, nós os vogais, secretários, tesoureiros e Presidentes éramos remunerados (muito bem remunerados e a tempo parcial). Mas isso não era problema, pois estávamos mandatados como representantes dos produtores e a qualquer um deles poderia um dia sair a sorte de ganhar uns trocados como dirigente, um dia.
- Lembro-me de muitos produtores receberem os seus pagamentos com 3, 4 e 5 meses de atraso (nessa altura os juros eram outros);
- Lembro de termos fornecedores à porta, por falta de pagamentos. Sim, porque tal como hoje as despesas no embalamento da banana eram muitas;
- Lembro-me de atrasos nos cortes de 8, 9 e 10 semanas.
- Lembro-me de se pagar mais e mais cedo a uns produtores em detrimento de outros.
- Lembro-me também de comercializarmos muito mais banana de segunda, pois era a que pagávamos menos.
- Lembro-me também que havia desperdício de banana, sem classificação, tal como hoje. Só que na altura ainda se inventavam formas para vender ilegalmente;
- Lembro-me de alguns “conhecidos” com a 4ª classe que foram contratados, como Encarregados e Motoristas a ganharem à 20 anos entre os €1500 a €2000, alguns também produtores de bananas;
- Lembro-me dos empréstimos feitos com o dinheiro dos produtores;
- Lembro-me dos desvios feitos pela intermediação da venda das bananas ( já investigado e julgado);
- Lembro-me dos “envelopes” entregues a alguns produtores e trabalhadores por altura do Natal. Hoje alguns duendes no sentido de tamanho intelectual, muito pequenino, criticam um simples almoço promovido pela GESBA aos seus trabalhadores. Um tal de José Gomes Pastor, que em tempos já se ofereceu ao Cafôfo, ao José Manuel Rodrigues e agora não tendo “pau onde se enforcar”, ofereceu-se aos duendes de Gaula. Não o conheço pessoalmente, no entanto, quem o conhece, sabe a sua “fome” de protagonismo politico. Aconselho as Autoridades competentes a investigar as propriedades que este senhor (que usa as ovelhas e os filhos menores como “chamariz”) se apropriou e que não tem nenhuma bananeira que justifique o seu descontentamento.
- Lembro-me das ligações dos Rufino´s, Tanque`s e Antonino`s, às Cooperativas e dos benefícios que usufruíram, por exemplo no preço diferenciado.
- Lembro-me de sentir vergonha de pertencer à Direção de uma Cooperativa;
- Lembro-me dos milhões que ficaram de dívida para a GESBA assumir.
- Lembro-me de ninguém se questionar de ver a nossa banana a €0.6 cêntimos à venda no Continente as cooperativas a perder dinheiro. Agora questionam o preço que é vendida nas grandes superfícies. Os mais esclarecidos sabem perfeitamente as margens de lucros das grandes superfícies, ascendem aos 80% . https://www.publico.pt/2012/05/04/economia/noticia/supermercados-com-margens-superiores-a-50-nos-alimentos-1544634
Tudo isto numa altura em que não existiam redes sociais, nem duendes. Hoje, assistimos a uma autêntica diarreia intelectual, a atacar a GESBA, empresa que foi criada para limpar a porcaria que as Cooperativas fizeram. Penso que o que está a acontecer, este sintoma que afeta a memória, o pensamento, a orientação, a linguagem, o processo de tomada de decisão, é uma sintomatologia que se pode acrescentar aos sintomas da doença de Alzheimer.
Sinto-me envergonhado, por meia dúzia de “colegas” que envergonham a nossa “classe”, fazendo de tudo para minar a opinião publica. Dizem que o Governo tomou de assalto, que ficou com o monopólio, de um sector que estava na bancarrota, cheio de dívidas.
Não tenho memória curta, repito. Lembro-me das dívidas, lembro-me das instalações e condições precárias que as Cooperativas dispunham, em comparação com Canárias. O que posso dizer de quem saldou as dívidas deixadas, aumentou o património, estabilizou e dignificou o sector, aumentando o rendimento e pagando a tempo e horas. Providenciou seguro de colheitas, trouxe credibilidade, afastando o estigma de “Cosa Nostra Siciliana”, ou se preferirem máfia, associado às Cooperativas. Também acho que ainda podem melhorar muito, também gostava de receber mais pela minha produção, mas não é através de uma tentativa de “Golpe de Estado” pelos principais beneficiários das Cooperativas em conjunto com um grupo de Duendes que tenta derrubar um sector estável que ainda dá votos aos PSD/Madeira.
Lembremo-nos que somos muito pequeninos, que podemos ser absorvidos pelas multinacionais da banana. Acham que os grandes distribuidores Nacionais vão ceder a chantagens, como a ideia que ouvi do Dr. Rufino no plenário que promoveu na Madalena do Mar, “vamos bater à porta deles e dizer: se quiserem comprar a nossa banana vão ter que pagar mais x….”. O que não falta são origens onde podem comprar outras bananas e ignorar a nossa banana da Madeira. Restará apenas vendermos as nossas bananas à beira das estradas. Pergunto-me, é isto que querem quando dizem que querem gerir a comercialização das vossas produções?
Peço a todos os que acreditam no futuro deste sector, que tal como eu ainda investem no mesmo, que partilhem as vossas opiniões, histórias. Vamos criar um grupo pela Verdade, pela sustentabilidade da Banana da Madeira. Quem sabe se, quando formos mais, não tenhamos receio de rufias que se escondem atrás de títulos de professores ou médicos. Vamos lutar positivamente pelo futuro da banana da Madeira.
Agradeço a ajuda na redação deste texto, ao meu filho, ele que também produtor otimista da Banana da Madeira e ao meu neto que fez a montagem do duende.
1) Duende-Ser sobrenatural, cuja origem remonta aos tempos pré-cristãos, muitas vezes associado a fantasmas de vivos mas também existindo como espírito da Natureza. Os duendes eram temidos pelo seu poder destrutivo quando zangados, mas também eram amados pelo facto de poderem ser excelentes aliados dos seres humanos. … um duende irritado ou zangado poderia ser terrível e destruidor…Os duendes dos bosques eram pequeninos, alegres e laboriosos e talvez tivessem inspirado a figura dos sete anões da história de Branca de Neve. Os duendes das montanhas eram mais agrestes e difíceis… Porto Editora – duende na Infopédia. Porto: Porto Editora. Disponível em https://www.infopedia.pt/$duende )
2) Gilberto Schoereder, livro Fadas, Duendes e Gnomos.
3) Victor Klemperer, LTI- a Linguagem do Terceiro Reich, Rio de Janeiro: Contraponto, 2009. Tradução de Miriam Bettina Paulina Oelsner
Enviado por Denúncia Anónima.
Quinta-feira, 8 de Dezembro de 2022
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