Não nos permitem viver.


E u, tal qual como muitos dos Madeirenses, sou filho de pais emigrantes. Meus pais na década de sessenta (60’s) tiveram que sair da Madeira por falta de oportunidades, pobres salários, condições de pobreza extrema. A vida no estrangeiro, para eles nunca foi fácil. Nos primeiros anos houve a barreira linguística. Durante muitos anos, tinham que acordar bem cedo para entrarem no trabalho às seis da manhã (06h00) e só terminavam às dez da noite (22h00). Durante muitos anos, raramente vi os meus pais, pois eles só tinham um dia de folga semanal, que era no domingo. Naquela altura não havia quaisquer condições de trabalho, como as que existem nos dias de hoje. Os intervalos durante o dia de trabalho eram só para necessidades fisiológicas e meia hora para almoçar. Foram muitos os sacrifícios que os meus pais fizeram, só assim foi possível amealharem dinheiro suficiente para regressarmos à Madeira, já na metade da década de noventa (1995), depois a construção da nossa casa. Poucos anos após o nosso regresso à Madeira, o meu pai primeiro adoeceu e pouco tempo depois faleceu, tinha sessenta e três anos de idade (63). Infelizmente, meu pai pouco gozou seu sonho, por aquilo que ele tanto lutou para lograr. 

Nos dias de hoje, apesar das condições de vivência aqui na Madeira terem evoluído, também eu já estive no estrangeiro durante dez (10) anos, por razões semelhantes à dos meus pais, se bem que eu já tive outras condições melhores, tanto no trabalho cá como fora. No meu caso, foram me exigidos formações laborais pelas entidades patronais, para nossa própria segurança e a dos nossos clientes. No meu regresso à Madeira, volto a me deparar com a dura realidade laboral que ainda aqui persiste. Como é que tal ainda é possível?

Os horários laborais, nunca são contados certos, e acabamos sempre por trabalhar horas extras grátis, as quais é sempre uma complicação para os patrões nos pagarem. Nós aqui ainda trabalharmos as quarenta (40h) horas semanais, o que são dez (10h) horas semanais a mais do que o estrangeiro. Os nossos horários não são contínuos, o que acaba por nos ocupar o dia todo. As folgas raramente são rotativas. As formações laborais são inexistentes, tenho colegas meus de trabalho com grandes dificuldades em perceberem os riscos existentes no ambiente de trabalho, tanto para nós próprios como para os nossos clientes. 

Os nossos ordenados são muito baixos e não somos valorizados pelos nossos patrões, nem mesmo quem tem formações, como é o meu caso. Com a minha experiência e as minhas formações recebo o mesmo que os meus colegas que estão há pouco tempo, o que acho injusto tal ser assim.

Vejo colegas meus a viajarem para o estrangeiro, em busca de condições melhores, somos cada vez menos trabalhadores no local de trabalho, e os novos que entram são cada vez mais estrangeiros que vêm para cá viver e trabalhar. Também volto a por outra vez essa hipótese em cima da mesa, de voltar a emigrar, porque isto aqui está a retroceder em vez de evoluir.

Para já, não noto que haja alguma vontade disto mudar. Não sei o que o futuro nos reserva, nem para onde vamos desta maneira, com estas condições, quando somos uma região turística pertencente a União Europeia, mas que cada vez mais somos semelhantes a países do terceiro mundo. 

Enviado por Denúncia Anónima
Segunda-feira, 17 de Julho de 2023
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