Raízes do Atlântico, Amigas do Atlântico ou Pax Atlântica?


A XXI.ª edição do Festival Raízes do Atlântico que foi adjudicado por um total de 213.425,00€ (duzentos e treze mil quatrocentos e vinte e um euros e noventa e dois cêntimos), tem, segundo a sua diretora artística a intenção de reunir "artistas e grupos convidados que são representativos, numa programação que se quer elucidativa, da música que se faz nos países ribeirinhos do Atlântico." 

Presumo, que isso se estenda pela extensa costa leste do continente americano, africano, Ilhas da América Central, Costa de Portugal, Espanha e Ilhas de Portugal e Espanha, o que coloca no saco inúmeros artistas internacionais, nacionais e regionais de grande relevo, provenientes de zonas ribeirinhas suscetíveis de serem convidados, mas que nunca foram e porquê? Porque as escolhas e gostos de maior ou menor qualidade da diretora prevalecem.

Segundo a grande chefe "a escolha é baseada sempre numa perspetiva de músicos que encontrem a sua inspiração nas raízes populares dos povos e, que, de alguma forma encontrem, por via da miscigenação social e cultural, uma fusão que carateriza a música e o sentir dos povos do Atlântico".

Se a escolha é feita dessa maneira alguém me explica em que momento é que os projetos regionais, de covers, onde até vi artistas madeirenses a reinterpretar temas estrangeiros, realizam essa fusão da música e sentir dos povos do Atlântico? Será que nalguns casos é por serem amigos da senhora diretora artística? Ou foi o assombro e pancada da senhora diretora pela Elis Regina e Gal Costa que criou a tal "Fascinação" para convidar amigas do círculo próximo?

Mais à frente, no mesmo texto refere a senhora diretora: "o Festival pretende ser um encontro desses músicos e um espelho das vivências musicais passadas e atuais desses povos".

Ora diga-me a senhora diretora artística, excetuado os Senza, a Lura, e os Fogo Fogo que encontro de músicos foi esse, que laços foram estabelecidos entre os artistas regionais e internacionais? Em que espelharam os grupos regionais as vivências musicais passadas e atuais das raízes do nosso povo e todo esse conceito defendido para este Festival?

Em jeito de conclusão, a senhora diretora escreve ainda "nesta perspetiva, faz todo o sentido um festival que lembre aos madeirenses e ajude a elucidar os nossos visitantes a importância da nossa relação com a cultura deste enorme oceano que nos une". 

E faz todo o sentido, se o mesmo Festival for bem programado e colocados projetos regionais à séria, que vão ao encontro ao conceito de que fala, projetos regionais dignos de figurar em cima deste palco, faz todo o sentido que os madeirenses e visitantes valorizem a importância da nossa relação com as culturas atlânticas, mas até lá é apenas mais do mesmo.

Quero relembrar à senhora diretora artística que este Festival, que se realiza anualmente desde 1999, destina-se a promover o revivalismo musical regional. E era sua pretensão inicial institucionalizar um movimento musical dedicado a reinterpretar a tradição no quadro da world music, atualizar a identidade regional, sintonizando-a com as dinâmicas culturais da globalização. 

Um balanço do contributo do evento em termos de desenvolvimento local regista aspetos positivos antes da senhora ser a diretora, quando ainda era o Nuno Barcelos: a participação cívica (expressão duma nova identidade regional, política inclusiva), a sustentabilidade (revisão curricular das expressões artísticas, aferição de novas competências musicais), e a dinamização da sociedade civil (organização dos tempos livres, diversificação dos consumos culturais).

Em contrapartida os resultados económicos até agora alcançados têm significado residual, e desde que a senhora diretora tomou conta disto foi apenas gastar e gastar sem retorno, não há preocupação de promotores e organização de garantir a sustentabilidade financeira do evento.

Após mais de duas décadas de existência, este Festival, tendo em vista impactos tidos no desenvolvimento da sociedade insular, há várias questões a colocar:

  • Onde está a revelação e consolidação desse movimento de música tradicional madeirense? 
  • Onde está o contributo para a redução das assimetrias entre a cidade e o campo, a oportunidade de aferir competências musicais, o estímulo à atividade artística, a participação na revisão curricular das expressões artísticas, a deteção de talentos regionais? É porque como já dissemos acima, no plano meramente económico, o festival não tem produzido, nem induzido efeitos diretos palpáveis. 

Por último, este festival dinamiza a sociedade civil? Requalificou estruturas dos tempos livres organizados, pelo reforço do associativismo cultural e pela mudança de gostos e consumos culturais, conforme a discussão sobre situação pós-folclórica trouxe à tona? 

Nada tem a ver com os moldes do atual Festival que serve como sempre para dar uns trocos aos mesmos do costume, basta olhar o contrato estabelecido com MUSIC MOV, Lda  para se dar conta disso. E o mais grave, além da falta de conceito para este Festival, e as jogadas de bastidores óbvias, é cachê praticado por alguns artistas regionais. 

Em alguns casos proposto pela senhora diretora, que adora imiscuir-se até no valor que o artista pede, dando primazia dos valores mais altos às suas amigas do peito e tostões às que sabe que aceitam qualquer esmola, mas que vergonhosamente continuam a aceitar por ingenuidade ou para ganharem vantagem sobre a concorrência.

Para o ano sugeria uma mudança de nome deste grandioso evento, que só pode ombrear em peso artístico com aquele fabuloso “Festival de Colombo” - o tal onde as Freiras no século XV fugiram da clausura para irem até lá passear - para um evento que primasse pelo feminismo sodomita e apenas se chamasse “Amigas do Atlântico” ou então “Pax Atlântica”, um evento onde vão se revezando conforme as vontades da sua responsável. 

Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 6 de Julho de 2023
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