Um dia de reflexão no Inferno.


E porque o Inferno é um braseiro, especialmente hoje no sempre, o meu jardim é preto, breu, cinzento e por aí, até porque há partidos para todas as cores menos para a ausência. Os jardins não fazem dia de reflexão, a não ser no Inferno. Hoje acusei uma mosca à CNE porque só de fazer bzzzzz já fazia campanha, é o que todos dizem, elas pousam muito em cima de candidatos e aprendem rápido, mas antes do ruído chega o cheiro. Hoje percebi que há 15 dias que tenho a música ambiente ligada e nem dava conta com a barulheira, porque é que não temos 15 dias de reflexão em vez de campanha? Para votar bem é preciso serenidade.

Hoje temos as equipas de sondagens todas a se confessar, querem evitar o Inferno com o perdão interesseiro. Perdoa-se hoje mas amanhã é que é a penitência, mais uma cajadada. Os que também foram ao confessionário foram a larga maioria de comentadores que devem andar à procura de cargos, só renovando é que ficam disponíveis. Os canais de notícias estavam tão inclinados que meti uns livros num lado dos pés da TV, para o canal ficar com a imagem da esquerda e da direita centradas, assim com fio de prumo e linha do horizonte. Foi grave, a TV no estado de campanha estava tão inclinada que, sempre que candidatos os metiam água ou dava a intempérie, metia um balde ao lado para amparar o degelo. Os canais de levar no pacote estão horrorosos, o Travel dá espiritismo, o NAT GEO dá como fazer droga e vender, os canais de filmes dão séries e ninguém tem tempo para se fixar a eles, o História dá penhores, e os canais de notícias nacionais dão assessores, técnicos especialistas, confessos do credo.

Quem também inclinou foi o garante do normal funcionamento das Instituições Democráticas, ele só disse uma ninharia para condicionar todas as eleições. Nunca vi uma frente tão grande, em normal funcionamento só para alguns. Há quem seja normal mas não beijoqueiro e sai em ombros, há quem beije até lambuzar e com foto para recordar que vai sair de gatas.

Diabólico mesmo era se 16% borravam tudo o que foi dito e feito, ou num súbito festejo do 25 de abril as pessoas comparecessem a votar.

A porta do Inferno está sempre aberta, dizem que uns, se perderem a imunidade, podem descer cá baixo num ápice, mas no fim também ficam disponíveis, ao entrar nova fornada já se prepara a campa das suas almas. São poucos os que chegam ao céu. Entretanto, por aí andam uns loucos a fazer ralis, espalham faúlha, atropelam almas, até já tentaram subornar o Gaap, o poderoso Príncipe e Grande Presidente do inferno, que comanda 66 legiões de demónios, com um envelope sem nada porque no inferno arde-se papel com advogados. Só para ter acesso ao elevador social por um fim de semana.

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