LIDL: uma "estória" não contada na Madeira


S empre que vem à baila o assunto do LIDL logo aparece, na memória de quem esteve indirectamente ligado aos bastidores do poder económico do final dos anos 90 do século passado, uma história relacionada com a tentativa inicial da vinda dessa cadeia alimentar para a Madeira. Partilho-a para que, se quiser, possa confirmar, acrescentar, ou desmentir, pois, como diria o jornalista/investigador Frederico Duarte Carvalho, "para mim tanto faz".

Uma das testemunhas que poderá corroborar ou desmentir o que aqui será escrito, caso tenha coragem, em ambas as situações, é o antigo Director Regional do Comércio e Indústria, Eduardo Abreu, conhecido maritimista, identificado na foto do meio.

 Há (ou houve) um documento decerto arquivado na Direcção Regional do Comércio e Indústria (e depois Energia), caso não tenha sido 'convenientemente' triturado, com uma exposição formal a Eduardo Abreu, a respeito dos "efeitos negativos" respeitantes à vinda do LIDL para a Madeira tentando demonstrar um "claro prejuízo" para a economia regional (da qual os consumidores parece que não fazem parte...). Pedindo, em conformidade, a não atribuição da licença de instalação e exploração da respectiva actividade económica.

Mas nos bastidores estava uma luta entre o, então, todo-poderoso, Senhor Jorge de Sá (encabeçando todos aqueles produtores de produtos regionais de bens alimentares que teriam de enfrentar produtos similares eventualmente mais competitivos; com o argumento de que o LIDL iria praticar concorrência desleal face a uma estrutura de custos de operação mais reduzida, devido a uma maior eficiência ou menor cuidado na colocação dos seus produtos) e, do outro lado, um "todo-poderoso" adjunto de Jardim, de seu nome Jaime Ernesto Ramos (pai do filhote), principal promotor, nos bastidores, da vinda do LIDL para a Madeira.

Mas o que tem a ver Jaime Ramos com tudo isto? Será que, qual benemérito 'arrependido', queria beneficiar os consumidores madeirenses e seus eleitores? Nada disso. Ao que consta (e aqui não há documentação que o confirme, a não ser que sejam revelados os contratos-promessa de compra e venda de imóveis) o grupo de Jaime Ramos teria ou apalavrado ou prometido comprar um conjunto de imóveis que serviriam para a instalação do LIDL pela Madeira, dos quais passaria a ser Senhorio. Falava-se em 12 ou 16, mas não estou seguro do número correcto.

Jaime Ramos perdeu a guerra. Não fosse esta manobra anti-LIDL caso prejudicar - de há décadas - os consumidores madeirenses, até seria caso para dizer: bem feito!

Para quem queira perceber melhor, numa perspectiva mais ampla, o desenvolvimento (apogeu e declínio) do poder de Jardim, esta situação terá representado o primeiro "grande embate interno" entre grupos económicos que fez 'tremer' a Quinta Vigia, central de gestão de negócios. O momento, sem retorno, em que o anterior presidente terá sentido que criou um "monstro" difícil de controlar. Visto que havia familiares seus envolvidos nesta "contenda", ao lado de Sá desde a primeira hora, Jardim acabou por vergar-se aos interesses do "lobby" alimentar, numa fase em que os Oligarcas, na altura, ainda estava em fase de crescimento controlado, sem que os seus tentáculos fossem desmesuradamente fortes.

Não será por acaso que o descontrolo dos Oligarcas (em termos de aumento exponencial do seu poder 'invisível') tenha coincidido com a fase de declínio do império Sá, que, também se sabe, passou a ser alvo de sucessivas inspecções das Finanças na primeira década de 2000. Alegadamente, Jaime Ramos teria mexido os "cordelinhos" nesse sentido, como se dissesse: "agora vais sofrer".

Não acompanhei a situação mais recente a propósito da nova tentativa respeitante à vinda do LIDL para a Madeira. Nem me interessa porque enquanto o monopólio dos transportes marítimos existir, mesmo havendo concorrência os preços serão certamente aproximados. Mas não podia de partilhar aquilo que, directa e/ou indirectamente vim a tomar conhecimento. Não posso dizer para que não seja esquecido, pois jamais fora contado ou, muito menos, do domínio público, mas para que as pessoas pensem que nem sempre aquilo que parece é, tendo, assim, uma informação mais detalhada e completa dos meandros da política regional e da sua promiscuidade com o poder económico.

Deixo outro desafio final: porque é que a carne de vaca dos Açores não vem para  Madeira? Haverá algum "pacto de não concorrência" - ou de "repartição territorial" - entre o Grupo Nóbrega e o Grupo açoriano SALSIÇOR? Quem quiser que investigue, na certeza de que os consumidores de carnes só teriam a agradecer. O que dirá a comissão parlamentar de economia da Assembleia Legislativa Regional?

Enquanto houver a mentalidade (e a propaganda) de que, na Madeira, segundo a "Alice do Palácio de São Lourenço", "vive-se bem" (resta perguntar quem) muita coisa ficará por esclarecer e por resolver a bem de todos.

P.S. - Apenas como "fit-diver", não deixa de ser curioso que a "ascensão e queda" dos grupos (e seus vassalos) que vão dominando a Madeira tenha expressão no... Rali Vinho Madeira. Sucedeu a Sá, sucedeu a Calado. Sucederá a Sousa?

Enviado por Denúncia Anónima
Sexta-feira, 28 de junho de 2024
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