O Maduro da Madeira


O mundo assistiu ao que aconteceu nas eleições da Venezuela. A ausência de liberdade, o impedimento à entrada no país dos observadores internacionais, a proibição de voto para tantos, o desaparecer e/ou adulterar de atas, o controlo da imprensa, a perseguição aos opositores do regime, os amedrontamentos, os aprisionamentos, as ameaças, a chantagem, coação, detenções, repressão, violência física e psicológica... Tudo mostra que o resultado das eleições não é legítimo. Foi uma ficção.  Não corresponde à vontade do povo mas sim à vontade de um regime ditatorial que não tem lugar no mundo atual.

É natural, por isso, a indignação e reprovação generalizada contra o regime atualmente vigente na Venezuela. Vi manifestações e lamentos nas redes sociais. Raiva e angústia. Muita tristeza e desilusão por não se concretizar a desejada viragem. Pede-se luta, resiliência e paciência. Não desistir. Não recuar. Lutar até ao fim. Deseja-se estar lá para contribuir e fazer parte da mudança.

Mas a luta que se trava na Venezuela não é apenas contra o regime de Maduro: é pelo triunfo do Bem contra o Mal. É pela liberdade, democracia e tolerância. Pelo jornalismo livre. Pela independência da Justiça. É pelo respeito da vontade do povo, que é sempre soberano. É pelo futuro das novas gerações.

À comunidade venezuelana que vive na Madeira deixo uma pergunta: encontram estes valores e princípios plenamente consagrados na Madeira atualmente? 

Não é fácil lutar contra um regime a 5.700km de distância. Mas infelizmente é cada vez mais notório que também é preciso lutar aqui, na Madeira, por semelhantes motivos. 

Têm ocorrido situações na Madeira que só não surpreendem e horripilam quem está habituado a viver sob a alçada de um regime ditatorial:

- Mesmo após todas as revelações, suspeições, questões e indícios levantados pelo processo-crime, tudo permaneceu igual. O sentimento de impunidade e a arrogância são tal que nem sequer responsabilidade política houve.

- O ocorrido nas internas do PSD-M é matéria criminal: a dimensão do medo e do pânico foi tal que muitos (mas mesmo muitos) militantes foram impedidos de regularizar as quotas e, como consequência, foram impedidos de votar nas internas, situação que apenas aconteceu aos militantes associados e/ou simpatizantes MAC ou então aos que não apoiavam (ou pelo menos não demonstraram apoio expresso) a atual presidência. Porém, nos bastidores, foi processada em massa a regularização das quotas dos militantes associados à lista da presidência. É assim que respeitam a vontade dos militantes? Isto lembra o quê?; Quando a candidatura MAC reclamou e apresentou requerimentos devidamente fundamentados ao Secretariado e Conselho Jurisdição do PSD-M (conforme regulamento eleitoral) a denunciar tal situação foram despoletadas reações intimidatórias e de coação. Estes órgãos nunca responderam aos requerimentos nem esclareceram diversas outras questões essenciais para a garantia da legitimidade do processo eleitoral e dos respetivos resultados. Isto lembra o quê? Para nem falar da pressão e coação que as chefias e dirigentes dos gabinetes, serviços, institutos públicos e empresas públicas exerceram durante as internas nos respetivos funcionários, incutindo o medo da “mudança” que uma viragem representava... E o que dizer das chamadas de Secretários Regionais a prometer favorecimentos em troca de votos? A oferecer “saúde”? Foi responsabilizado politicamente quem usou bens e serviços públicos para ganhar eleições internas? Isto lembra o quê?

- Com a “vitória” dos Renovadinhos (mera cópia barata do PSD de AJJ), começaram os saneamentos, perseguições, ajustes de contas, vinganças... finalmente foi deitado “azeite a ferver em cima deles” para servir de lição aos que, democraticamente, ousem ser alternativa.  Isto lembra o quê? 

Todos viram, todos sabem, todos comentaram à boca pequena... mas ninguém fez nada. Não há jornalismo livre, sério, independente e objetivo na Madeira para revelar a dimensão de tudo o que se tem passado... E é mesmo isto que se quer... Isto lembra o quê?

Os representantes da comunidade venezuelana no PSD-M (C.F., A.B. e R.M.C., entre outros), todos com posições moderadamente relevantes no partido e na função pública (em tempo recorde), dizem ser contra o regime de Maduro (pelo menos estavam na vigília). Ora retiro, então, que lutam pelos ideais e princípios da liberdade, democracia, tolerância e do respeito pela vontade do povo. Mas se é assim como é que defendem e fazem parte do regime do Maduro da Madeira? Como é que defendem, na Madeira, um regime que lembra o da Venezuela, que dizem ser contra? O regime é bom na Madeira mas não na Venezuela? Se estivessem na Venezuela apoiavam Maduro? A hipocrisia, a ganância e o interesse é tanto que não deixa espaço à empatia, consciência e seriedade.

A comunidade venezuelana, os que vivem e conhecem bem os horrores de uma ditadura, deviam questionar e exigir a clarificação da posição desta sua representação.

É sobretudo a vós que me dirijo: a vossa luta não está circunscrita à Venezuela. Todos vós fazem parte da Madeira também. São elementos essenciais da nossa comunidade. São também madeirenses.

Para a Venezuela desejam a liberdade, democracia e tolerância. Exigem eleições livres e o respeito pela vontade do povo. Este, infelizmente, é também o desejo e a luta da Madeira e dos madeirenses nos tempos atuais. Também aqui o Mal não pode triunfar sobre o Bem. Não se deixem enganar pelas festas e arraiais... Quem verdadeiramente anda a faturar com esses eventos são os vossos supostos representantes, que assim justificam a aposta do partido neles.

Com respeito, peço-vos que estejam atentos. Sejam exigentes com quem diz ser vosso representante. Exijam, na Madeira, a garantia dos princípios e valores que desejam para a Venezuela. Exijam critérios de análise iguais para o que acontece na Madeira e na Venezuela. 

Vamos deixar que o Maduro da Madeira faça o que o Maduro da Venezuela fez? 

As futuras gerações merecem viver em liberdade. Merecem singrar pelo mérito e trabalho e não por cunhas, contactos ou favores. Ter liberdade para pensar, falar e escrever. Para defender e lutar pelo que acham certo e justo. Para viver numa terra onde imperam os interesses do povo e não os interesses dos grupos económicos.

É preciso libertar a Madeira e os madeirenses. Ontem já era tarde.

Enviado por Denúncia Anónima
Terça-feira, 20 de Agosto de 2024
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