Senhor, estou farto!


P or finais dos anos 60, Raul Solnado criou uma personagem que cantava uma canção cujo refrão era “Senhor, estou farto!”. Estou mais ou menos assim: Farto! Não estou farto das diferenças de opinião ou discussão de ideias e projectos. 

Estou farto da aldrabice, das manobras e da intimidação. Estou farto da falta de carácter e da pulhice. Estou farto de gente que olha de cima para quem não pertence ao gang, gente só sobe na vida porque espezinha os outros e lhes conquista lealdade por medo. Estou farto de 49 anos de um poder construído sobre uma rede de chantagens e interesses.

Janeiro foi o que se viu com Albuquerque num espetáculo miserável de cambalhotas que ninguém imaginaria e com o amém do Representante da República para, a todo o custo, não perder a imunidade e não ser detido juntamente com os outros três. Depois foram as habituais práticas em redor das eleições e, uma vez mais, o filme das passadeiras, cumplicidades e jeitinhos, muito mal disfarçados por parte de certos partidos no parlamento, sempre apostados em que o PSD não perca o poder. 

O que aconteceu durante os incêndios mostrou os governantes como eles são: pessoas para quem é uma chatice ter de estar no terreno a acudir aos dramas que estavam a acontecer, sobretudo quando lhes interrompem as férias.

Tivemos uma festa de casamento, no Fanal – uma zona protegida da Laurissilva – cuja autorização está muito mal explicada. Desconfio, pelo silêncio da parte do Instituto das Florestas, que a autorização foi dada por alguém mais bem colocado. Como não conheço bem este assunto, gostava de saber se Rafaela Fernandes é ou não é responsável pelo ambiente. É que não se percebe o papel que teve em tudo isto, como não se entende que tenha sido tão leviana quando declara que a pesca ao atum na Reserva das Selvagens está em cima da mesa ou, agora, tenha tido o descaramento de equiparar uma qualquer festa nas Selvagens a uma vista de uma equipa de investigadores  ou cientistas àquelas ilhas. Rafaela Fernandes já ultrapassou o limite do insulto à inteligência de todos nós.

E para Setembro continuar em beleza, bate à porta a operação Ab initio. O paleio desta gente é sempre o mesmo, estão todos inocentes, tranquilos e dispostos a colaborar com a justiça. José Prada até ‘dispensa a imunidade’. Hipocrisia pura. Se a seriedade e a honestidade fossem, em política, princípios sagrados, Prada teria dirigido uma carta ao parlamento, suspendendo o mandato de deputado e escreveria outra ao Tribunal para, enquanto arguido, pedir para ser ouvido. Mas é mais fácil ficar quieto a ver se se passa entre os pingos e se tudo cai, uma vez mais, no esquecimento. A ver se o processo demora, demasiados anos como é frequente acontecer, e quando chegar, lhe acontece o que aconteceu com a prisão de Pinochet cujo advogado – ilustre líder de um grupo de extrema-direita – defendia o seu não julgamento porque tinha a saúde debilitada… 

Senhor, estou farto! (1:26)

Clara Sofia

Enviado por Denúncia Anónima
Sábado, 21 de Setembro de 2024
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