Passam hoje 15 anos sobre o último e dramático grande aluvião no Funchal.
C umprem-se hoje 14 anos que consegui começar a escrever este livro, registo escrito desses dias. Durante um ano, precisei de procurar, ouvir, ler, estudar, compreender, pensar. Precisei de interiorizar a dimensão do que tinha acontecido.
Se fosse hoje, demoraria muito mais a arrancar com a escrita já que teria de perceber:
porque é que a montanha está pior do ponto de vista da segurança, sem qualquer intervenção, digna desse nome, no que respeita ao ordenamento florestal e à prevenção; porque é que não foram seguidas as recomendações do “Estudo de Avaliação do risco de aluviões na ilha da Madeira” desse ano que, também ele e à semelhança do estudo do Brigadeiro Oudinot em 1803, apontava como imprescindíveis as intervenções a montante, na serra e nas cabeceiras das ribeiras; porque é que as encostas sobranceiras ao Funchal continuam com centenas de esqueletos de eucaliptos queimados no incêndio de 2016 e nunca retirados, esperando deslizar serra abaixo em situação de aluvião/derrocada; porque é que os leitos de cheia das ribeiras continuam perigosamente ocupados; porque é que as bacias de retenção e os pentes colocados nos leitos das ribeiras estão quase desaparecidos debaixo da vegetação infestante e de inertes acumulados. Tudo isto para já nem falar das intervenções em que as muralhas centenárias foram todas cobertas com betão tornando as ribeiras em canais de escoamento muito mais perigosos e favorecendo a velocidade destruidora das águas – e se se argumenta que os leitos foram descidos e colocados travessões, o que é verdade, não é menos certo que a secção das ribeiras diminuiu!
Perceber porque é que nada verdadeiramente foi feito para que os riscos e os perigos não tivessem aumentado e, afinal, a ilha não esteja mais segura nem preparada para um qualquer outro 20 de Fevereiro!
Fica o testemunho.
É um livro esgotado, sem reedição, que teve o seu lugar e foi do seu tempo. É com ele que hoje, mais que um curvar de ombros à gigantesca força da Natureza, mais que uma homenagem a todos quantos sofreram, fica um desejo muito sentido e uma convicção ainda mais forte: é nossa obrigação, e uma obrigação ainda maior de quem governa, prevenir, cuidar, respeitar!
Possamos encontrar os caminhos certos!
Violante Saramago Matos
Nota: um agradecimento ao Madeira Opina pela disponibilidade para esta publicação.
Nota do MO: Nós é que agradecemos, volte sempre.
Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025
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