Enquanto os ladrões dançam.


Um grito de revolta contra a farsa de abril

A liberdade que nos prometeram não é a que vivemos. Um grito de frustração contra a corrupção e a desigualdade.

C omemorar Abril? Para muitos que testemunham a persistente desigualdade e injustiça em Portugal, a mera menção da data ecoa como uma afronta. Longe da promessa de uma liberdade plena, o que se observa é uma elite a pilhar impunemente, um desemprego muitas vezes mascarado por estatísticas convenientes e gerações inteiras a lutar arduamente por um futuro digno.

Liberdade? Para quem afinal? Para os que desviam fortunas enquanto a justiça parece cerrar os olhos? Para os jovens talentos forçados ao êxodo pela gritante falta de oportunidades em sua própria terra? Para os idosos frequentemente esquecidos e marginalizados? Para uma parcela crescente da população portuguesa, a celebração de Abril soa vazia, quase sarcástica, pois a liberdade tão arduamente conquistada parece ter sido sequestrada pela corrupção endémica, pela precariedade laboral que mina a dignidade e pela indiferença para com os mais vulneráveis.

Este texto é, portanto, um grito de revolta contra a farsa de um "Abril" que teima em não cumprir a sua promessa de equidade e justiça social, um desabafo visceral que questiona o verdadeiro significado da "liberdade" no Portugal de hoje, expondo as feridas abertas que a euforia da comemoração por vezes tenta encobrir, e um lamento urgente pela promessa não cumprida, clamando por uma justiça e equidade verdadeiras que beneficiem a todos.

Comemorar Abril? Que afronta! Liberdade, dizeis? Liberdade para os ladrões doutorados pilharem milhões sob o olhar cego de uma justiça anémica? O desemprego, cancro silenciado por estatísticas manipuladas que não valem o papel onde são impressas?! E aquela legião de reféns do tempo, velhos demais para trabalhar, novos demais para a reforma – como acumularão os anos de descontos, ó sábios? Mistério macabro!

E os que despendem anos em labuta intelectual, sacrifícios familiares a fio (alguns, imagine-se, estudam mesmo para valer), licenciaturas, doutoramentos... e a recompensa? 'Não tem experiência!' – eis o grito de guerra do mercado. O resultado? Desânimo corrosivo e a fuga, o êxodo deste 'país de Abril'.

Comemorar Abril? Só quando os ladrões vomitarem os milhões roubados nas grades frias das prisões! Só quando o emprego for um direito inalienável e não um feudo da corrupção! Só quando a saúde for um escudo para todos! Só quando os profissionais forem honrados e a terceira idade não implorar por um fio de atenção! Até lá, Abril será apenas mais um espectro no calendário.

Não mutilem cravos enquanto não semearem os craveiros de uma justiça verdadeira!”

A verdadeira comemoração de Abril só florescerá plenamente quando a justiça deixar de ser uma miragem distante e se consolidar como uma realidade tangível, punindo implacavelmente a corrupção e garantindo a cada cidadão o direito fundamental ao trabalho digno e a uma vida com segurança e oportunidades.

O espírito de Abril clama por mais do que meras efemérides anuais; exige a concretização urgente das promessas de uma sociedade genuinamente justa, onde o mérito seja efetivamente reconhecido, a dignidade de cada indivíduo seja inalienavelmente garantida e a corrupção seja combatida com firmeza e sem complacência.

Não permitamos que a memória daqueles que derramaram o seu sangue na luta pela liberdade seja maculada pela complacência perante a injustiça e pela aceitação passiva da desigualdade. O seu sacrifício exige mais do que discursos vazios e celebrações superficiais. Enquanto estas feridas profundas não cicatrizarem completamente, qualquer celebração soará a falso, como um eco distante de uma revolução inacabada, e será sempre incompleta, um lembrete doloroso do abismo que ainda persiste entre o ideal de Abril e a dura realidade. 

A verdadeira homenagem aos que lutaram será a construção de um Portugal onde a justiça seja a sua espinha dorsal inabalável e a dignidade de cada cidadão a sua bandeira mais alta. Até que esse dia chegue, a indignação justa é a nossa mais fiel aliada na busca incessante por um futuro que honre verdadeiramente o espírito da revolução dos cravos. Que a indignação se transforme em ação concreta e a esperança renasça, nutrida pela luta contínua por um Portugal verdadeiramente livre e justo.

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