Micaela em missão: selfies, fitas e fuga às urgências.


No aparecer é que está o ganho, daí a agenda de assessores e comunicação social

A Micaela Freitas, secretária regional da Saúde da Madeira, já devia ter cartão de pontos das inaugurações. Vai a tudo, reforça fisioterapeutas à terça, elogia enfermeiros à quinta, e talvez até plante um estetoscópio num canteiro público ao sábado. Sempre com um blazer novo, porque é preciso parecer preocupada, com estilo.

Já sabemos como funciona, há um reforço de pessoal, lá está a Micaela. Há uma reabertura de centro de saúde que nunca chegou a fechar? Aparece a Micaela. Até em inaugurações de salas de espera reformadas, a senhora secretária brilha como se estivesse a cortar a fita da NASA.

Tudo isto com um salário base simpático de cerca de €4.700 mensais, fora as mordomias do cargo, carro oficial, telemóvel, ajudas de custo e a bênção de nunca ter de se sentar cinco horas numa urgência só para levar pontos num dedo.

E é aqui que entra o inferno real, as urgências.

Sim, Micaela, as urgências! Aquelas salas abafadas onde os utentes esperam horas até serem chamados, por vezes com dores, febres, ou simplesmente o desespero a escorrer-lhes pela cara. Os profissionais estão exaustos, fazem malabarismos com macas, papéis, gritos e falta de pessoal. Mas vá lá encontrar uma selfie sua por lá.

Ficava-lhe bem ir lá numa sexta-feira à noite. Sozinha. Sem imprensa. Sem secretários de gabinete. Esperar como qualquer utente comum e ver como é levar com o sistema que diz gerir. Talvez até levasse uma manta, porque quando o caos aperta, a espera arrefece.

Mas claro, isso não rende nas redes. Uma visita à urgência verdadeira é uma realidade demasiado crua para caber nos filtros de Instagram político. Muito melhor continuar a reforçar categorias profissionais como quem coleciona cromos da saúde, sem nunca resolver nada de estrutural.

Porque decidir dá trabalho. E suar no terreno estraga o outfit.

Portanto, continuamos nós no mesmo filme, os profissionais de saúde a remar contra a maré, os utentes a desesperar por atendimento, e Micaela a dar mais um reforço, no guarda-roupa.

Enviar um comentário

0 Comentários