A final há números! Que surpresa. Depois de anos a ouvir falar de “estudos técnicos”, “avaliações complexas” e “modelos económicos”, eis que alguém se lembra de que já existiam… números reais. Daqueles que não se inventam numa consultora amiga, nem se ajustam ao “gosto do freguês” — expressão tão perfeita que devia vir impressa no brasão do Governo Regional.
Esses números — coitados — já demonstravam a viabilidade da linha marítima mista, de carga e passageiros, nos tempos em que a Naviera Armas ainda navegava com rumo. Mas claro, isso não convinha. Viável demais, talvez. E um projeto que funciona sem precisar de favores e com transparência… bem, isso aqui é quase subversivo.
O problema é que certos governantes têm alergia a factos. Preferem “estudos encomendados”, com conclusões à medida e orçamentos generosos. É uma espécie de arte moderna da governação: quanto mais caro o relatório, mais inútil o resultado.
E depois vêm a público, com aquele ar solene, dizer que “os números não sustentam o projeto”. Pois claro, não sustentam — quando os números são os que vocês inventam no gabinete.
Entretanto, a linha marítima que podia ligar Madeira e continente de forma estável e digna fica eternamente “em análise”. Um barco fantasma a navegar nas águas turvas da política regional.
Mas não desesperemos: quando houver novo “estudo independente” a custar mais umas centenas de milhares, talvez se descubra novamente que afinal… a linha era viável. Só que já não dá jeito nenhum.
No fundo, é sempre a mesma história: os números existem, mas os senhores preferem navegar à vista — desde que o horizonte seja o da conveniência.
A Madeira é uma ilha politicamente cercada de interesses.
Os números estão aí — claros, registados, estudados. Mostram que uma linha marítima mista entre a Madeira e o continente é viável, sustentável e até lucrativa nos primeiros anos de operação. Mas, misteriosamente, o Governo Regional finge que não os vê. Prefere encomendá-los de novo, embrulhados em relatórios pomposos, até que as conclusões fiquem “convenientemente ajustadas”.
É o velho truque: quando os factos incomodam, muda-se o estudo. Quando o resultado não convém, inventa-se uma dúvida técnica. Assim se mantêm décadas de promessas, anúncios e desculpas — tudo menos uma ligação marítima real e permanente.
E claro, por trás de cada adiamento há sempre quem tenha muito a ganhar com o imobilismo. O monopólio aéreo agradece, o negócio das cargas do Luís Miguel de Sousa continua controlado e os madeirenses ficam a ver navios — literalmente.
O mais curioso é que Luís Miguel de Sousa gosta de se apresentar como “defensor da Madeira”, mas que parece temer qualquer projeto que possa dar ao povo verdadeira autonomia. Podem ter mansões restauradas, com péssimo gosto, mas o respeito do povo, esse, não se compra com betão nem com favores. Luís Miguel de Sousa é o inimigo da Madeira nº1.
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