O eco das promessas vazias
A s grutas da promessa e o eco da hipocrisia: há quem prometa abrir o futuro com uma chave, mas acabe por perder o molho logo no primeiro dia. Em São Vicente, a nova vereação iniciou o mandato como quem inaugura um museu da inércia: as Grutas continuam fechadas, o silêncio é total, e a promessa — essa — ficou soterrada no eco das palavras vãs.
Durante a campanha, juraram abrir as Grutas “no primeiro dia de mandato”. Uma semana passou e o único movimento visível é o da paciência dos vicentinos a esgotar-se. O povo esperava ação; recebeu o habitual teatro político. É mais fácil abrir a boca do que abrir as portas. O discurso foi rápido; o cumprimento, geológico.
Há quem diga que as Grutas guardam segredos antigos. Talvez o mais recente seja a Verdade sobre a falta de coragem política. Porque o problema não é a entrada estar selada — é a consciência de quem prometeu que continua trancada. Falaram de transparência, mas nem a luz entra. E assim se ergue a nova política de São Vicente: feita de eco e de sombra.
A segunda promessa: uma auditoria às contas da Câmara. O povo ouviu, acreditou, e esperou. Uma semana depois, nem rasto da tal “auditoria imediata”. O silêncio administrativo tornou-se o novo som da transparência. Parece que a coragem para olhar para os números depende da conveniência dos cargos.
Há uma lei não escrita no poder local: a urgência eleitoral evapora-se no instante em que a cadeira aquece. O que era “imediato” transforma-se em “quando der jeito”. E assim se confunde o dever com o descanso. O povo pediu a prestação de contas — recebeu uma cortina de fumo e um calendário político em modo “adiado até novas ordens”.
Talvez a prometida auditoria esteja presa entre as páginas de um relatório que nunca se quis ler. Ou talvez o problema seja mais profundo: não falta tempo, falta vontade. Porque quem quer mesmo transparência, não precisa de sete dias para encontrar a luz.
E há ainda o capítulo cómico desta tragédia moral: o súbito despertar de consciências agora que o “tacho” está servido. Quem antes gritava contra os privilégios, saboreia agora o molho da conveniência. O discurso mudou, o apetite cresceu, e a estátua da hipocrisia já tem molde.
O tacho político tem esta magia: transforma a indignação em digestão. E há quem confunda poder com mérito, ambição com serviço. Falta-lhes a virtude de quem governa para servir, não para se servir. O poder engorda quando se alimenta de promessas incumpridas — e a moral, essa, fica à dieta.
Conclusão em 7 dias, a nova ética da promessa, prometer muito, cumprir zero. A política não é espetáculo, é gestão. O verdadeiro túmulo da confiança está na vossa retórica vã. A “Gruta da Consciência” dos governantes de São Vicente permanece inexpugnável. Enquanto for assim, o futuro do concelho não abrirá.
Francisco Pereira
