Por alguém que conhece bem os corredores do poder local.
D iz-se por aí que há vereadores que não têm onde pousar a pasta. O caso é sério, garantem os protagonistas: os eleitos do JPP na Câmara do Funchal estão “sem espaço para reunir e trabalhar”. Aparentemente, o futuro da cidade depende de uma secretária vazia e de uma tomada elétrica disponível.
Há quem diga que o trabalho autárquico começa nas ideias e não nas cadeiras, mas vivemos tempos em que um gabinete passou a ser símbolo de dignidade política. A sede do partido, ao que parece, não serve para trabalhar. A Assembleia Municipal, onde o microfone está sempre ligado, também não. É preciso, ao que tudo indica, um gabinete oficial com vista para o Largo do Município, de preferência com estante, placa e cafeteira.
A curiosidade é que, nas freguesias de São Martinho e São Pedro, o mesmo JPP governa com o apoio das maiorias que o PSD generosamente ajudou a construir. Um gesto de abertura e confiança. Ainda assim, parece que nem isso chega para satisfazer o apetite por mais espaço, neste caso, físico.
Mas sejamos justos: talvez os vereadores do JPP precisem de um local adequado para planear as suas grandes reformas urbanas, ou para redigir comunicados sobre… a falta de local adequado para planear as suas grandes reformas urbanas. A política tem destas ironias.
Enquanto isso, o executivo continua a trabalhar, os serviços mantêm-se em marcha, e a cidade segue o seu rumo. Há quem veja nisso normalidade democrática; outros preferem ver conspiração imobiliária. Cada um com o seu gabinete, real ou imaginário.
O Funchal tem muitos problemas sérios por resolver. O “drama dos sem-gabinete” dificilmente será o mais urgente.
Talvez o verdadeiro espaço que falte ao JPP não seja físico, mas político. Porque quem tem ideias, propósito e trabalho, encontra sempre lugar, mesmo que seja numa sala modesta ou num simples banco de jardim. O poder de transformação não vem das paredes, mas da vontade.
No fim de contas, o Funchal precisa menos de mais gabinetes e mais de soluções. E para isso, felizmente, há quem prefira arregaçar as mangas em vez de medir metros quadrados.
