Felizmente a mota não acorda ninguém durante a noite.
N ão sei se é uma tentativa de rebranding político ou apenas um desabafo artístico mal disfarçado, mas cá estamos nós, estupefactos (e deliciados), com a mais recente intervenção pública de V. Ex.ª Miguel Albuquerque ensinar crianças a desenhar motas numa ludoteca.
Sim, senhor. Isto é estadismo puro. Churchill pintava aguarelas, Kennedy escrevia discursos inspiradores, e V. Ex.ª... desenha motas com lápis de cor. Cada um com os seus talentos, claro.
Fico a pensar, terá sido esta a solução encontrada para os problemas da habitação, da pobreza infantil e do caos na saúde? Talvez. Afinal, quem precisa de médicos de família quando se pode fazer um sketch de uma Harley-Davidson com o Presidente?
Há algo de profundamente simbólico nesta cena, um líder político, em plena ludoteca, rodeado de crianças e canetas de feltro, a ensinar traços de escape e rodas cromadas. Parece quase uma metáfora para o seu mandato, muito barulho, muitos riscos... e pouca direcção.
Mas atenção, não me interprete mal. Acredito plenamente que desenhar motas pode ter o seu valor terapêutico. Sobretudo quando se vive num arquipélago onde os transportes públicos funcionam como fantasmas, todos dizem que existem, mas ninguém os vê.
E quem sabe? Talvez este workshop artístico faça parte de um plano mais vasto:
- Educar uma nova geração de ilustradores de motas, visto que mecânicos já há poucos e carteiros andam de trotinete.
- Ou preparar as crianças para o futuro da mobilidade na Madeira, que ao ritmo atual, será feita toda a lápis e papel, porque gasolina está cara e o ferry continua no mundo da fantasia.
- Ou, vá lá, talvez esteja apenas a fugir das perguntas chatas sobre corrupção, ex-secretários detidos e essas minudências que estragam qualquer sessão de pintura.
- Um atelier de origami com documentos da IGAE (Inspeção-Geral da Administração do Estado - organismo nacional que fiscaliza o funcionamento da administração pública, incluindo legalidade, eficiência e combate à corrupção ou má gestão). Em vez de resolver problemas sérios, fazem dobrinhas bonitas;
- Um atelier de dobragens com relatórios de auditorias, já que ler e aplicar recomendações parece estar fora de moda;
- Ou, melhor ainda, um mural coletivo onde todos desenhamos a palavra "transparência" — só para ver se ainda sabemos escrevê-la.
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