Paula Margarido e a pobreza na Madeira.


(ou a fabulosa teoria da ausência dela)

Cara Paula,

D eixe-me ver se percebi bem, na Madeira, a pobreza é praticamente uma espécie extinta? Ora, que alívio! Afinal, andamos todos a ver mal, ou então temos uma definição de pobreza que, por algum motivo, não se aplica ao arquipélago.

Veja bem, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), uma pessoa é considerada pobre se viver com menos de 60% do rendimento mediano nacional. Mas, pela lógica madeirense que nos trouxe, parece que essa linha foi riscada do mapa insular. Na prática, se uma família está a viver de salários que mal cobrem a renda e os bens essenciais, na Madeira isso é... quê? Um estilo de vida minimalista?

E depois temos a questão das privações materiais, que o INE teima em considerar indicadores de pobreza. Não ter carro, aquecimento adequado ou a possibilidade de ir de férias uma vez por ano? Na Madeira, talvez isso seja só um conceito turístico. Até porque temos um sistema de mobilidade aérea e marítima fantástico nao é verdade? Dá uma vontade de fazer ferias só d pensar no subsídio de mobilidade (em que se adianta 800 euros, para passar um inferno até os receber de volta).

Sobre a pobreza energética, que tal esta visão, se passas mais tempo no café do que em casa porque o Wi-Fi é grátis e o ambiente é mais acolhedor, talvez estejas apenas a fomentar o espírito comunitário. E quanto a não conseguires aquecer a casa, podemos sempre considerar isso uma contribuição para a sustentabilidade, certo?

Mas vamos falar da verdadeira questão, a pobreza é relativa. O INE diz que, se o teu rendimento está abaixo da mediana, estás em risco de pobreza. Mas, na Madeira, parece que o conceito é diferente, desde que haja um vizinho em pior estado, está tudo bem! Se alguém consegue pelo menos pagar a poncha no fim do mês, já não está mal, certo?

E os apoios sociais? Ah, esses existem, claro! Mas será que chegam? Segundo a teoria madeirense, aparentemente não só chegam, como até sobram. Talvez haja quem esteja a guardar algum subsídio num cofrinho invisível, porque há quem continue a viver com a sensação de que está sempre a contar tostões.

Resumindo, Paula, se os números do INE e as queixas de quem vive no terreno não coincidem com a sua realidade, talvez o problema esteja na definição de pobreza. Ou talvez o truque seja redefinir o conceito para que a Madeira se torne a primeira região livre de pobreza por decreto! Já que tem autonomia também poderia ser livre de pobreza…

Enquanto isso, continuamos por aqui, a tentar fazer contas e a perceber como é que a ausência de pobreza não se reflete no bolso de muita gente, não se pode viajar como manda o INE

Com os melhores cumprimentos 

Os Madeirenses que escrutinam a sua actuação

PS: aproveite a sua devoção católica para reflectir verdadeiramente sobre o que você observa pelas ruas da madeira.

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