O anúncio de José Luís Nunes como candidato do PSD à presidência da Câmara Municipal do Funchal confirma apenas aquilo que já se pressentia: o PSD está à rasca de nomes, de ideias e de rumo. E, mais do que escolher lideranças, limita-se agora a tentar sobreviver aos seus próprios escombros.
José Luís Nunes tem um percurso respeitável enquanto médico pediatra, e ninguém lhe nega a dedicação com que exerceu a sua profissão ao longo de décadas. Mas a sua ascensão como figura política tem sido tudo menos orgânica: foi colocado na Assembleia Municipal em 2021, sendo um presidente fantoche da mesma, comandado pela bancada do PSD. Essa subserviência foi premiada com um lugar na lista às Regionais de 2023, onde chegou a estar apontado como presidente da Assembleia Legislativa da Madeira — cargo que o PSD teve de ceder ao CDS em desespero, para manter a maioria e segurar Albuquerque no poder. Um trunfo descartado no altar da conveniência.
Agora, o mesmo nome é reciclado para encabeçar a candidatura do PSD ao Funchal. Não porque seja trabalhador ou um político competente, não porque represente uma ideia para a cidade ou pela sua experiência autárquica, mas porque não incomoda ninguém. É um rosto respeitável, sem ambições próprias, na iminência da reforma, e, sobretudo, não faz sombra a Miguel Albuquerque. É tudo o que interessa.
O que se exige de um presidente de Câmara é visão, energia e capacidade de enfrentar os desafios de frente. O que se propõe aqui é um símbolo: uma figura que empresta peso clínico ao cartaz mas que passa ao lado da governação real. Porque essa, ao que tudo indica, continuará a cargo do eterno preterido Bruno Pereira. O actual vice-presidente, que foi derrotado nas eleições de 2013, sem qualquer profissão fora da política, e hoje dependente do partido para subsistir, irá voltar a aceitar o papel subalterno de executor. Será ele a garantir, apesar do cada vez mais visível enfado, o dia-a-dia, a obrazinha, a burocracia, o atender o povo, enquanto o candidato decorativo ornamenta a presidência com discursos e inaugurações.
É difícil não ver aqui o retrato do PSD que Albuquerque construiu: um partido onde a lealdade vale mais do que o mérito, onde a ausência de brilho é condição para subir, e onde quem pensa pela própria cabeça é rapidamente silenciado ou substituído.
A escolha de José Luís Nunes não é uma aposta de futuro, mas uma confissão de cansaço. Um reflexo de um partido que já não sabe propor, apenas tenta manter-se à tona. O Funchal merecia mais. Merecia um projeto, uma liderança, um rumo. Recebeu, em vez disso, um sinal claro de subjugação à vontade do supremo líder.
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