Supermercados: "roubos" disfarçados, use a aplicação.


F aço compras no supermercado aos domingos, frequento 3 cadeias, duas delas "enojam-me", pela frequência que noto uma relação de engano com o consumidor. Os supermercados devem perceber que as pessoas, cada vez mais, contam o dinheiro que têm e desistem de algumas compras e, os supermercado, do dinheiro disponível nas famílias, querem extrair mais lucro. Só pode acabar em menos quantidades e  produtos em casa. Estou a tentar diversificar, mas há poucas alternativas, algumas tem que ser em quantidade. Precisamos de concorrência e não concertação.

O que você e eu estamos a observar nos supermercados é real e tem sido alvo de críticas, investigações e mesmo medidas legislativas e até punitivas. Trata-se de estratégias de marketing e manipulação de preços que criam a ilusão de desconto, quando na prática o consumidor acaba por pagar o mesmo ou mais caro. Fiz uma lista de esquemas:

ESQUEMAS DE AUMENTOS ESCONDIDOS SOB PROMOÇÕES EM SUPERMERCADOS PORTUGUESES

1. Descontos sobre preços previamente aumentados ("pseudopromoção")

Como funciona: um produto é vendido, por exemplo, a €2,39. Antes da "promoção", o preço é aumentado para €2,99 durante uma ou duas semanas. Depois anunciam: "Promoção! XX% de desconto para €2,59", o que parece ótimo. Na prática, o preço com “desconto” é igual ou superior ao preço habitual anterior.

Objetivo: manipular a perceção do consumidor, criando sensação de urgência e vantagem.

2. Cartão de fidelização como “moeda de troca”

Como funciona: prometem "25% de desconto em cartão". O desconto não é imediato, é “acumulado”. Leva o consumidor a voltar ao mesmo supermercado para “usar” o valor. No entanto, em muitos casos, o produto tem um preço base artificialmente inflacionado. O “valor em cartão” expira se não for usado dentro de um prazo curto. Só pode ser usado em determinados produtos ou períodos.

Objetivo: fidelizar à força e disfarçar aumentos.

3. Mudança de formato/quantidade com mesmo preço ("shrinkflation")

Como funciona: a embalagem de um produto reduz-se em gramas ou mililitros, mas o preço mantém-se igual ou sobe. Exemplo: um pacote de bolachas que tinha 200g passa a ter 175g. A embalagem continua a parecer igual visualmente. O preço por unidade é igual, mas o preço por quilo/litro aumenta.

Objetivo: aumentar preço real sem que o consumidor perceba à primeira vista.

4. "Leve 2, pague 1" com preço unitário inflacionado

Como funciona: um produto que custava €1,50 passa a custar €2,99. A promoção "leve 2, pague 1" é então aplicada. O consumidor sente que está a pagar €1,50 por unidade, mas na prática, paga o mesmo que antes, e às vezes até mais, devido ao aumento inicial.

Objetivo: manipular a perceção de volume e valor.

5. Preços diferentes para produtos quase idênticos

Como funciona: variantes do mesmo produto (ex: iogurte de morango vs. de ananás) têm preços diferentes, apesar de terem o mesmo custo de produção. Frequentemente o preço mais caro é o que está em “promoção”, e o mais barato, sem destaque.

Objetivo: criar uma falsa escolha com tendência para o consumidor escolher a “promoção” mais cara.

6. Rotatividade de promoções (efeito “bumerangue”)

Como funciona: um mesmo produto entra e sai de promoção ciclicamente. O preço de “promoção” passa a ser o normal real, mas apenas aparece ocasionalmente. Quando fora da promoção, o preço é artificialmente alto e quase ninguém compra.

Objetivo: treinar o consumidor a só comprar com "promoção", mas a valores inflacionados.

7. Produtos “de marca própria” disfarçados de produtos premium

Como funciona: os supermercados criam sub-marcas de gama alta dentro da marca própria. Vendem com embalagens “premium”, preços aumentados. Mas são produtos idênticos ou muito semelhantes aos da gama branca (mais barata).

Objetivo: aumentar margem com a ilusão de qualidade superior.

8. Ocultação do preço por litro/quilo

Como funciona: alguns supermercados diminuem o destaque do preço por litro ou quilo. Ao fazê-lo, dificultam a comparação entre produtos de diferentes tamanhos e formatos.

Objetivo: tornar difícil perceber qual é o mais caro em termos proporcionais.

9. “Desconto direto” com margem escondida do fornecedor

Como funciona: o supermercado negocia com o fornecedor um preço mais baixo, mas não baixa o preço ao consumidor. Em vez disso, diz que está a fazer um “desconto direto de €X”, mas já está embutido na margem. Em promoções “2ª unidade a 50%”, o preço da 1ª unidade é muitas vezes inflacionado para compensar.

Objetivo: rentabilizar margem mesmo em promoção.

10. Promoções falsas de curta duração

Como funciona: um cartaz indica “promoção válida só até domingo!” No dia seguinte, a mesma promoção volta com nova data. O consumidor sente urgência de comprar, mas a promoção é permanente, só muda o cartaz.

Objetivo: Pressionar decisão de compra por medo de “perder”.

Nota: também há promoções sem stock, "havia mas acabou", o que levou o cliente ao supermercado que levará, já agora, a outros bens. Se me tiver esquecido de alguma gostaria que adicionassem nos comentários da publicação.

ESTEJA ATENTO, COMO DETETAR ESTES ESQUEMAS?

  • Compare o preço por litro/quilo, não apenas o preço final.
  • Use apps de histórico de preços (como KuantoKusta, por exemplo).
  • Fotografe etiquetas antes da promoção e compare depois.
  • Verifique se o desconto em cartão é real ou ilusório (compare com concorrência).
  • Veja o peso real da embalagem: está a receber menos por mais?

LEIA INFORMAÇÕES, LEGISLAÇÃO E RECLAMAÇÃO

No nosso país, estas práticas podem violar o regime das práticas comerciais desleais (DL n.º 57/2008). Pode denunciar à ASAE, DECO ou livro de reclamações eletrónico. A DECO tem vindo a alertar regularmente para estas promoções enganosas.

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