O plano é simples, encher a ilha de turistas para animar a economia, mas não tanto que chegue ao cidadão comum. Afinal, se o dinheiro começasse a escorrer para os de baixo, onde é que isso nos deixava em termos de tradição? Um povo com rendimentos decentes e saúde mental estável? Isso seria trair a essência madeirense tal como definida pelo governo regional: pobreza e uma pinga ao pequeno-almoço.
Com a chegada do verão, os hotéis preparam-se para cobrar o triplo aos estrangeiros por quartos com vista para obras, enquanto os residentes enfrentam mais um ano sem conseguir pagar uma semana de férias fora do concelho. Mas o importante, segundo o Incompetente Nº 4, é que “há dinâmica”. Há, sim senhor, principalmente nas filas da Cáritas.
E não esqueçamos o golpe de génio, um aumento de 5% nos salários dos políticos. Num gesto de profunda empatia, decidiram reajustar os seus vencimentos antes que a inflação os obrigue a escolher entre o vinho de reserva e o de 15 euros. Já o povo, que opte entre a luz e a comida, como qualquer cidadão consciente e solidário faria. Pena que o mesmo critério não se aplique às pensões, aos trabalhadores ou à dignidade humana.
Enquanto isso, as festas populares lá continuam, fiel antídoto contra a revolta, poncha a 1 euro, foguetes, e artistas de karaoke para entreter as massas. Uma anestesia social eficaz, de preferência regada com álcool local e promessas ocas. Porque na Madeira, se não tens pão, ao menos tens folclore.
É o visionário Eduardo Jesus, conhecido nas lides insulares como o Incompetente Nº 4 (não se sabe se por ordem de chegada ou de mérito), veio esta semana anunciar com um sorriso orgulhoso que “espera um verão cheio de turistas”. Diz que é “bom para a economia”. A dele, presume-se.
Na Madeira, onde a pobreza galopa, esta previsão foi recebida com o entusiasmo habitual por quem ganha o salário mínimo e vive numa casa com mais buracos que a estrada do Monte. Afinal, nada como ver multidões a despejar libras e euros nas esplanadas enquanto metade da população não tem dinheiro para encher o depósito até metade. Mas que interessa isso? O que importa é a “retoma”, dizem eles, enquanto a retoma se ri na cara de quem ainda tenta encontrar leite em promoção.
“Estamos preparados para receber milhares de turistas”, assegura Eduardo. “A economia precisa deste impulso”, acrescentou.
Entretanto, a Madeira continua a liderar orgulhosamente nas estatísticas de alcoolismo e pobreza, como se fosse uma espécie de Jogos Olímpicos do Desespero. Mas, segundo os governantes, isso não é problema, é cultura, é identidade, é fado insular.
Portanto, preparem-se, vem aí o verão. Sol, espetada, turistas de sandálias e políticos bronzeados a brindar com vinho Madeira pago com o vosso IRS. Se virem o Eduardo Jesus na rua, agradeçam-lhe. Mas não muito alto. Ele pode pensar que é aplauso.
1 Comentários
Um dos artigos mais preguiçosos que já li na minha vida. É fácil queixar-s e atirar m*erda. Zero propostas ou zero compreensão sobre os motivos trás a pobreza na Madeira
ResponderEliminarAgradecemos a sua participação. Volte sempre.