Senhor Bispo, que vergonha.


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D. Nuno Brás, Bispo do Funchal.

N o dia em que a Madeira se despediu de uma das suas figuras mais marcantes, o senhor, excelentíssimo Bispo, optou por estar... a crismar jovens. Sim, porque aparentemente ungir meia dúzia de adolescentes com óleo — tarefa delegável a qualquer padre recém-ordenado, teve mais peso na sua agenda do que prestar a última homenagem a um verdadeiro homem de Deus: o Padre Martins Júnior.

Sabemos que não era um padre fácil. Ainda bem. Já há padres a mais que fazem tudo para não incomodar. Martins Júnior era dos que punham o Evangelho em prática, coisa rara nos dias que correm. Foi perseguido, silenciado, e mesmo assim não se calou. Lutou ao lado do povo quando a Igreja, a sua e a nossa, preferia o silêncio cúmplice. E hoje? Hoje a Igreja, através de si, prefere esquecê-lo.

Talvez seja porque o Padre Martins Júnior teve o desplante de viver como Cristo. Não como um Cristo decorativo de altar barroco, mas como aquele que andava com os pobres, falava verdade ao poder, e era odiado pelos hipócritas. Sim, esse mesmo Cristo que vocês tantas vezes citam… mas raramente seguem.

A sua ausência foi um gesto. Um gesto eloquente, alto e claro. E não há eufemismos litúrgicos que disfarcem isso. O senhor, com a sua batina engomada e sorriso episcopal, passou uma mensagem a toda a diocese: “A Igreja não honra quem nos incomoda. Honramos apenas os que obedecem.”

Mas que Igreja é essa, senhor Bispo? A do incenso, das capas e do protocolo? Ou a Igreja viva, corajosa, profética, como foi a de Martins Júnior? Porque se for a primeira, então está no caminho certo. Mas se for a segunda, permita-me dizer-lhe: o senhor falhou. E falhou redondamente.

O povo vê. O povo sabe. E mesmo que muitos se mantenham calados por respeito, ou por medo de ofender a instituição, há outros que já não engolem hóstias de olhos fechados. Já não aceitam bispos de mãos limpas e consciência ausente.

O senhor teve uma escolha. E escolheu o conforto da liturgia à coragem da memória. Escolheu o papel do funcionário da fé, em vez do pastor com espinha. O problema é que Jesus não andava a crismar. Andava a consolar, a resistir e a transformar.

Se Martins Júnior estivesse vivo, talvez nem se surpreendesse com a sua ausência. Estava habituado à traição elegante dos altos cargos da Igreja. A diferença é que, agora, foi o povo que notou. E muitos não esquecerão.

Vergonha, senhor Bispo. Vergonha.

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