Barracas, Balões e Batota: Crónica do Chão da Lagoa sob escuta


Por um "jornalista" infiltrado no arraial mais judicialmente animado do país

D ia grande no planalto do PSD. A família laranja sobiu em massa ao Chão da Lagoa para a festa anual, com bandeiras ao vento, copos na mão e o Ministério Público no pensamento. Entre barracas recheadas de carne e vinho seco, resta saber: quem paga a rodada? A resposta, como quase tudo hoje em dia, parece estar sob escuta.

🟠 Albuquerque e Montenegro estiveram presentes — lado a lado — mas com a discreta distância de quem não quer ser visto a brindar com antigos amigos financiadores. Afinal, se a PJ os apanha de copo erguido ao lado de Custódio Correia, o empresário que terá financiado o partido via contratos de milhões com o Governo Regional (mas que jura que só queria ser amigo), arriscam mais do que uma ressaca. Diz-se que Custódio pagava de tudo: almoços, brindes e até as multas do partido. A dúvida é se também vai pagar a dívida ao Martinho do Santo, o proprietário da Herdade do Chão da Lagoa, onde tudo se festeja... ou conspira.

🟠 Mas não se pense que é só Custódio a sacar da carteira. O irmão, Domingos Correia, também anda por perto, depois de ter sido cliente da empresa de Montenegro, a tal Spinumviva, que entre consultorias e massagens políticas, ainda arranjava tempo para hotéis na Calheta ou em Braga. Em 2022, Montenegro inaugurava o hotel de Domingos com um sorriso de quem não sabia — ou não queria saber — que os Correia se tornariam os irmãos Metralha da contabilidade paralela social-democrata.

🟠 O ambiente, claro, é tenso. Não por causa do tempo (que estará provavelmente soalheiro), mas porque, segundo a própria PJ, a acusação no processo "Ab Initio" será deduzida nas próximas semanas. E os nomes dos arguidos já estão praticamente fechados. Mas há um que não aparece, e ninguém entende porquê: Nivalda Gonçalves, que foi apanhada nas escutas a pedir 10.000€ a Humberto Drummond, não para o partido — isso é para os tontos — mas para si própria. Uma espécie de "taxa de representação" para quem estava sempre em campanha, mesmo quando dormia. A pergunta impõe-se: terá sido um erro processual… ou apenas um lapso do clube de amigos?

🟠 O destaque do dia vai também para a formalização como arguido de Rui Coelho, braço-direito de Pedro Calado, e espécie de cobrador de fraque dos tempos modernos. Diz quem o conhece que Coelho sabia onde estavam todos os “contributos espontâneos” de empresários pequenos, médios e desesperados, prontos a pagar para ter o "licenciamento rápido", a "resolução favorável" ou simplesmente "a sorte de não ser ignorado". Era ele quem tratava dos contactos, dos envelopes e do sorriso de plástico. Agora, trata do advogado.

🎭 O mais irónico de tudo é que hoje, no alto da serra, os discursos vão ser sobre “honestidade”, “autonomia”, “o ataque de Lisboa” e “a inveja dos outros partidos”. O povo baterá palmas, alguns de fé genuína, outros porque o copo está cheio e a carne de vinha e alhos a fumegar. Enquanto isso, a Justiça afia as acusações, e o país assiste a este arraial judicial com o mesmo fascínio de quem vê uma novela repetida... mas sempre com novos vilões.

No fim, como sempre, a conta chega. A questão é só: quem a vai pagar desta vez?

Talvez os irmãos Correia.

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