O Chão da Lagoa, esse templo sagrado onde a elite política madeirense se junta para o tradicional festival da autoflagelação moral com sabor a espetada e poncha. E este ano, que bênção, tivemos a aparição quase messiânica de três grandes figuras do panorama nacional: Luís Montenegro, Sebastião Bugalho e Miguel Albuquerque, todos vestidos de branco, como se fossem a Santíssima Trindade da inocência democrática, com a excepção de Miguel Albuquerque, claro. Com um polo Lacoste azul celeste, Albuquerque parecia saído diretamente de uma campanha de verão da Zara... edição "Políticos em Fuga do Juízo Popular". Talvez achasse que o crocodilo no peito o faria parecer mais agressivo. Ou talvez fosse só para combinar com os óculos de sol que gritavam “não sou elitista, sou aspiracional”.
Sebastião Bugalho, por outro lado, desfilava com aquele ar de quem ainda acredita que política se faz com frases tiradas de livros que nunca leu. Como comentador, tinha sempre o dom de parecer neutro; agora como político, consegue parecer... ainda mais neutro, mas com perfume caro. Um verdadeiro prodígio da fotogenia sem substância.
E no centro do altar, claro, Montenegro, o homem que não quer ajudar os madeirenses no seu subsidio de mobilidade. E hoje, precisamente hoje, soubemos oficialmente que Sua Excelência Miguel é arguido num processo judicial. De branco e azul celestial todos pareciam prontos para a purificação. A única coisa que lhe faltava era um incenso na mão e um coro de crianças a cantar “Ave Maria”, em vez de Dinarte e Fernando para presidente. Que parolo.
E a pergunta que ecoava pela serra era só uma: será que queriam dar assim tanto nas vistas? A resposta é sim. Claro que sim. Porque nesta nova política, o conteúdo é opcional, mas o espetáculo é obrigatório. E se vier com uma Lacoste melhor ainda.
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