Ex.mo Senhor Presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque,
A ntes de mais, permita-me felicitá-lo pelo admirável estado da arte do sistema informático associado ao subsídio de mobilidade. É verdadeiramente reconfortante saber que, em pleno século XXI, viajar da Madeira para o continente é quase tão simples como organizar uma missão espacial... sem orçamento.
É verdadeiramente notável como, em 2025, conseguimos transformar uma simples viagem do Funchal a Lisboa e Porto numa experiência de luxo comparável a uma ida a Nova Iorque. Com a modesta quantia de 500 euros, um madeirense pode — com um pouco de sorte e uma escala — percorrer o território nacional e ainda sentir que está a contribuir generosamente para a economia das companhias aéreas.
Permita-me partilhar a minha última aventura: queria visitar uns familiares no Porto, mas ao ver o preço do bilhete, considerei mais económico levá-los todos para as Caraíbas. Imagine a minha surpresa quando descobri que uma viagem Funchal–Nova Iorque custava praticamente o mesmo. Afinal, o sonho americano começa mesmo em Santa Cruz.
Claro que, munido do tal famoso subsídio de mobilidade, respirei fundo e pensei: “Não faz mal, o Estado reembolsa!” Ingénuo de mim. Eis senão quando... o sistema informático caiu. Porque, como todos sabemos, nada diz "eficiência" como um servidor que se recusa a funcionar ao mesmo tempo que os balcões dos CTT parecem saídos de um filme dos anos 80 (e não no bom sentido).
Por isso, venho agora propor-lhe — com o maior respeito institucional possível — que, da próxima vez que o sistema for abaixo e me for recusado o subsídio, o Senhor se junte a mim num posto dos CTT para imortalizarmos o momento com uma bela selfie. Pode até trazer uma moldura daquelas douradas, tipo retrato oficial.
Quem sabe, com essa imagem viral, conseguimos sensibilizar o país inteiro para esta gloriosa epopeia em que um madeirense, para se deslocar dentro do seu próprio país, tem que hipotecar metade do 13.º mês. E se quiser juntar uma viagem da Madeira ao Porto, prepare-se, é mais barato ir ao Rio de Janeiro e voltar com uma caipirinha na mão e o Cristo Redentor a dar palmadinhas nas costas.
Fico a aguardar o colapso do próximo servidor e, com sorte, o seu melhor ângulo.
Com os melhores cumprimentos
Um contribuinte viajado (mas não reembolsado)
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