É com uma estranha sensação de alívio, e até um sorriso meio incrédulo, que recebemos a notícia de que a RTP nacional resolveu, finalmente, retirar a autonomia de edição à RTP Madeira. Afinal, era de um descaramento quase surreal acompanhar as notícias produzidas ali, sempre cuidadosa e religiosamente passadas pelo filtro colorido do governo regional.
Durante anos, vimos o jornalismo transformado num espetáculo grotesco de censura e maquilhagem. Notícia? Só se fosse aquela que enaltecia o poder instalado, aquele que cortava rigorosamente tudo o que pudesse incomodar a tutela. Se fosse contra, nem passava da redação. Se fosse a favor, lá vinha o “reportagem” que mais parecia um anúncio institucional, com direito a sorrisos forçados e cortes cirúrgicos nas palavras incómodas.
Era uma vergonha diária para quem gosta de jornalismo, uma dolorosa pantomima para quem acredita que a televisão pública deve ser, acima de tudo, pública e independente. Um verdadeiro teatro do absurdo onde a verdade era coadjuvante e a censura o protagonista.
Agora, que a RTP nacional puxou as rédeas e disse “basta”, ficamos com uma única certeza: esta foi a melhor notícia para a comunicação social na Madeira… dos últimos tempos. Se a RTP Madeira era o quintal particular do governo regional, agora passa a ser, pelo menos, uma área de sombra controlada pela casa-mãe. Um primeiro passo para a liberdade editorial, ainda que tardio.
Resta-nos esperar que este sopro de ar fresco traga com ele um jornalismo sério, plural e sem os filtros rosados do poder local. A Madeira merece, e os madeirenses merecem, não ser tratados como espectadores de um canal de propaganda disfarçado de serviço público.
E que esta decisão sirva de exemplo: às vezes, é preciso cortar o cordão umbilical do controle político para que o jornalismo possa finalmente respirar.
Parabéns, RTP Nacional. Que esta “intervenção” seja o início da verdadeira revolução na comunicação regional.
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