Rui Campos Matos: a voz da elegância e da memória que a Madeira precisava.


Num tempo em que a pressa, a ganância e a ignorância parecem moldar o destino da Madeira, é refrescante, e profundamente necessário, celebrar quem faz o oposto: quem preserva, quem valoriza, quem entende que a nossa identidade nasce das pedras, dos traços e das histórias que formam o património arquitetónico desta terra.

O arquiteto Rui Campos Matos acaba de oferecer à Madeira um presente raro e precioso: um livro dedicado ao património arquitetónico da Região. Não se trata apenas de um compêndio de casas e fachadas. Trata-se de um ato de amor pela Madeira, pela sua autenticidade e pelo seu passado, um grito silencioso, mas firme, contra a destruição e a descaracterização que têm sido levadas a cabo à vista de todos, quase sempre em nome de um progresso cego e desalmado.

Num tom sereno, sem fanfarronices nem demagogias, Rui Campos Matos lembra-nos que o que faz da Madeira um lugar único não são os hotéis de vidro e betão nem os arranha-céus de gosto duvidoso, mas sim as quintas, os solares, as igrejas, as casas senhoriais que contam séculos de história. Ele não grita, mas a sua obra fala mais alto do que qualquer discurso vazio.

E aqui, o contraste não podia ser mais gritante.

De um lado, temos Rui Campos Matos, com o seu livro-reflexão, a erguer a bandeira da sensibilidade, do conhecimento e do respeito. Do outro lado, temos personagens como Miguel de Sousa, que adquiriu uma das mais belas quintas antigas da Madeira, um símbolo de outros tempos, apenas para a descaracterizar sem pudor, num ato de ignorância estética e cultural que parece saído de um manual de “como matar o património em cinco passos”.

Temos também figuras como Eduardo Jesus, que no campo da cultura e da identidade tem mostrado uma deselegância intelectual à altura do seu cinismo político. Para estes, o património é um inconveniente. Um entrave. Um adereço decorativo que só serve se for lucrativo ou instagramável. A cultura, para eles, é um cocktail em evento turístico, vazia, plástica e superficial.

Já Rui Campos Matos prova que é possível ser arquiteto, pensador e cidadão. Que se pode, com elegância e rigor, resgatar as raízes sem cair no saudosismo, e olhar para o futuro sem destruir o passado. O seu trabalho é um convite a todos nós: ou preservamos o que somos ou entregamo-nos ao esquecimento vestido de modernidade barata.

A Madeira precisa de mais Rui Campos Matos.

E precisa, urgentemente, de menos Miguéis de Sousa e Eduardos Jesus.

Porque há uma diferença abismal entre quem constrói memória… e quem a destrói sem sequer perceber o que perde.

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