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Um ferry é mais apto e rentável do que as unidades da Marinha. |
A afirmação de Gouveia e Melo sobre o mar como um "elemento de liberdade para Portugal" e pilar da nossa história e enquadramento geoestratégico é perfeitamente válida. Contudo, é irónico que esta perspetiva não se reflita na concretização de uma ligação de ferry sustentável entre a Madeira e o continente, algo que noutras partes da Europa é uma realidade bem-sucedida e valorizada.
O sucesso das ligações de ferry na Europa serve como um forte contraponto ao aparente impasse português. Estes serviços são vitais para a economia, o turismo e a conectividade de muitas regiões, demonstrando que o transporte marítimo de passageiros e carga pode ser eficiente e benéfico.
Grécia: As ilhas gregas são um exemplo paradigmático da dependência e do sucesso dos ferries. Sem as suas extensas redes de ferry, que ligam centenas de ilhas ao continente e entre si, a vida local seria impraticável e o seu setor turístico, um dos mais importantes do país, colapsaria. Empresas como a Minoan Lines, Blue Star Ferries e Anek Lines operam frotas modernas que transportam milhões de passageiros e toneladas de carga anualmente, demonstrando a viabilidade económica e operacional deste tipo de ligação.
Escandinávia e Báltico: Países como a Suécia, Finlândia, Dinamarca e as nações bálticas dependem fortemente dos ferries para ligar cidades costeiras, ilhas e até mesmo países vizinhos. As rotas entre Estocolmo, Helsínquia, Talin e Riga são cruciais para o transporte de passageiros, veículos e mercadorias, facilitando o comércio e o turismo. Empresas como a Tallink Silja Line e a Viking Line operam grandes navios com todas as comodidades, que são verdadeiros cruzeiros de curta duração, integrando o transporte com experiências de lazer e comércio a bordo.
Reino Unido e Irlanda: A ligação entre a Grã-Bretanha e a Irlanda é dominada por serviços de ferry que transportam um volume significativo de tráfego de passageiros e carga. Rotas como Holyhead a Dublin, ou Fishguard a Rosslare, são essenciais para a conectividade entre as duas ilhas, funcionando como verdadeiras pontes marítimas que complementam as ligações aéreas. O sucesso destas rotas demonstra a capacidade dos ferries de competir e coexistir com outros modos de transporte.
Mediterrâneo (Itália, Espanha, França): A Sardenha e a Córsega, por exemplo, dependem em grande parte dos ferries para se ligarem aos seus países continentais e entre si. Empresas como a Córsega Ferries - Sardinia Ferries e a Grimaldi Lines oferecem ligações regulares que são fundamentais para os residentes, turistas e para o abastecimento das ilhas. Estas rotas demonstram a capacidade dos ferries de servir destinos com necessidades logísticas e turísticas específicas.
E Espanha com as Canárias? Exemplo mortal para as afirmações de Gouveia e Melo.
Estes exemplos europeus sublinham que os ferries são muito mais do que um simples meio de transporte; são facilitadores de mobilidade, comércio e turismo, contribuindo para a coesão territorial e o desenvolvimento regional. Montenegro só copiou...
A hesitação em implementar uma ligação de ferry robusta e regular entre o continente português e a Madeira parece ir contra a própria ideia de que o "mar é um elemento de liberdade" para Portugal. Se outros países com menor vocação marítima conseguem explorar com sucesso este potencial, Portugal, com a sua vasta costa e as suas regiões insulares, tem um mar de oportunidades por aproveitar.
A ausência de uma ligação eficaz não só isola a Madeira em termos de transporte de carga e passageiros por via marítima, mas também ignora um modo de transporte que poderia ser mais sustentável e acessível para muitos. A verdadeira liberdade do mar, como Gouveia e Melo a descreve, deveria incluir a capacidade de ligar as suas próprias regiões de forma eficiente e diversificada, tal como acontece noutras latitudes europeias.
Faz impressão um homem do mar dizer o que disse.
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