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Negócio da China, o segredo dos ralis. |
V enho, com zero paciência, questionar algo que anda na boca do povo — ou pelo menos na parte do povo que ainda não foi anestesiada por espetáculos de fogo-de-artifício e rotundas floridas. Quem, meus senhores, vai patrocinar o carrinho de rali do Senhor Pedro Calado e do seu comparsa, o colecionador de periquitos?
É que estamos todos em pulgas. A Madeira, essa terra onde falta dinheiro para ferries, para transportes públicos, para saúde, para habitação, para apoiar quem realmente precisa — parece nunca faltar, no entanto, para brinquedos de luxo com rodas e para egos descontrolados em alta rotação.
Será que o turismo vai pagar? Será a cultura? Ou talvez sejamos todos nós, contribuintes, que entre um voo cancelado e um assalto descarado ao erário público, ainda vamos ter que engolir mais esta palhaçada a quatro rodas?
E o colecionador de periquitos? Vai ajudar com as poupanças em alpista? Ou estamos perante mais uma daquelas figuras decorativas que paira por aí, a mamar subsídios e a sorrir para a fotografia enquanto o povinho vai andando a pé?
Faz-se tudo para alimentar vaidades: ralis, festas, comitivas e aparições mediáticas. Mas perguntar pelo básico — estradas seguras, salários dignos, voos que descolem e aterrem quando devem — isso já é pedir demais.
Na Madeira, meia dúzia brinca aos ricos e aos famosos enquanto a maioria vai sobrevivendo entre greves, cancelamentos e miséria disfarçada com toldos de esplanada.
Fica então a pergunta, clara e direta: quem vai pagar o brinquedo? Quem vai encher o depósito do carro do Senhor Calado para ele dar umas voltinhas? Já agora, vai haver lugar na bagageira para os periquitos?