O Porto Santo, terminal dos "bardamerdas".


Ao Excelentíssimo Senhor Secretário do Turismo e Cultura, carinhosamente conhecido como Bardamerda (porque está no dicionário).

V enho por este meio expressar a minha mais profunda admiração — daquelas que se diz de boca cheia e olhos revirados — pela forma exemplar como V. Ex.ª tem gerido o circo montado à volta dos voos cancelados no aeroporto da Madeira. É verdadeiramente notável a capacidade que tem para não fazer rigorosamente nada enquanto o caos desfila à sua frente com pompa e circunstância.

É caso para dizer: enquanto o povo desespera, o Bardamerda espera.

Os passageiros da Ryanair, esses heróis anónimos, depois de ficarem plantados no Porto Santo sem voo, sem apoio e sem um pingo de respeito, devem estar a pensar que isto faz parte de algum programa de “turismo de sobrevivência”, uma iniciativa inovadora do vosso secretariado para dinamizar as ilhas secundárias. Uma espécie de “perde o voo e descobre o Porto Santo à força” — agora com mais fome e desespero.

Pergunta inocente: há consequências? Ou a Ryanair pode continuar alegremente a operar como se nada fosse, deixando pessoas encalhadas como se fossem bagagens extraviadas? É que aqui para nós, turista maltratado é turista que não volta. E não sei se já reparou, mas os “bardamerdas” que cá vêm em voos low-cost, quando saem daqui a praguejar, acabam por contar a história no Facebook, no Instagram e até na fila do supermercado — e essas histórias correm mais depressa que o vento da Ponta do Sol.

Por isso, Senhor Secretário, se turistas não nos faltam (palavras suas), talvez seja altura de mostrar algum brio e fazer o que nunca se faz: pôr a Ryanair na ordem. E se isso significar dizer-lhes que podem levar os seus voos duvidosos para outra paragem, pois bem, que seja. A Madeira sempre sobreviveu a maus ventos — pode bem sobreviver a menos meia dúzia de turistas que chegam sem saber se voltam.

Os passageiros, deixados ao Deus-dará no Porto Santo, sem informação, sem transporte, sem apoio e, acima de tudo, sem respeito, são o reflexo perfeito da política turística que V. Ex.ª tem vindo a apadrinhar: um turismo de saldos, de qualidade duvidosa, onde tudo vale desde que entrem euros — ou cêntimos — pela porta. Se os passageiros ficam encalhados? Se são tratados abaixo de cão? Se andam de um lado para o outro como pacotes esquecidos? Paciência! O que interessa é o número nas estatísticas.

Aliás, já dizia o povo: quem anda à chuva molha-se, e quem voa com a Ryanair... fica a dormir no chão do aeroporto ou na praia do Porto Santo. Uma experiência cultural, não é assim que lhe chamam agora?

Mas pergunto: vai continuar a permitir esta palhaçada? Vai continuar a permitir que esta companhia de meia-tijela, que faz do desrespeito pelo passageiro uma filosofia de vida, aterre e descole da Madeira como se nada fosse?

Não precisamos de mais gente que chega cá com 50 euros no bolso e 5 queixas na ponta da língua. Não precisamos de mais Ryanairs da vida a sujar o nome da Madeira. Por isso, Senhor Secretário, se tem um pingo de vergonha e um grama de autoridade, comece a agir. Exija responsabilidades. Cancele autorizações. Faça alguma coisa, porque a Madeira não é nem nunca será o tapete de entrada de companhias de segunda.

Ou então continue quieto, como é costume, e mude já o nome do cargo para Secretário do Turismo Bardamerda — Versão Decoração. Fica-lhe melhor.


Nota MO, leitura relacionada: O plano de contingência do malcriado (link)