Boa noite.
N ão pude deixar de pensar na Rubina Berardo, nas razões que invocou para a desvinculação do PSD com uma notícia que acabo de ler, onde um "aborígene da seita" destrata um homem que sabe o que diz. Não há exemplos de cima, é tudo malcriado, enviesado, mentira e a fugir da Justiça, resulta que gente bruta fica convencida, alguns agarrados aos precedentes abertos. O ganância cega. A notícia e nela está o comentário que não vou replicar, mas vou comentar:
Na notícia, Rui Campos Matos, especialista e autor de um livro sobre as quintas históricas da Madeira, alerta para a perda da identidade turística da ilha. Muita gente está a fazê-lo, porque é impossível de escapar às consequências da massificação. A sua crítica central baseia-se na adoção de um modelo de desenvolvimento turístico "inspirado nas Canárias", que privilegiou a "construção massificada e o turismo mais concentrado" em detrimento do património arquitetónico e cultural ligado às quintas históricas do século XIX.
Este erro será reconhecido no futuro, com o respetivo distanciamento temporal e incapacidade de ocultar, até porque agora não há volta a dar e isto vai se agravar
A "verdade" que Rui Campos Matos tenta transmitir é uma preocupação com a qualidade e a autenticidade da oferta turística da Madeira. Ele não está a questionar a existência de turismo ou o seu crescimento, mas sim o modelo escolhido, que, na sua visão, levou ao desfiguramento ou demolição de quintas históricas, afastando a ilha da sua "essência turística original, baseada na relação entre as casas e os jardins das quintas". A sua reflexão é um apelo a um maior equilíbrio entre "turismo e conservação".
Lembram-se do episódio recente?
- Ai que saudades que já tenho daquela alegre quintinha... (link)
- A casinha do Luís Miguel no lugar da quintinha madeirense. (link)
Um dos comentários, que reage à notícia de forma abrupta, classificando o autor como "alienado da realidade" e focando-se exclusivamente na geração de emprego pelos hotéis, defende que a "estratégia de turismo foi muito bem conseguida" e atribui as mudanças a fatores como as "low cost e a mudança dos padrões pós pandemia" e ao perfil de turistas "cada vez mais novos e mais aventureiros". Quem mudou o tipo de turista na Madeira foi Eduardo Jesus e a sua equipa, ela não é espontânea sem a bênção às low costs e ao abuso de camas na hotelaria, por empresários a quem ninguém vai dizer que não. Eduardo Jesus já foi demitido uma vez por um DDT. Continua a haver destinos turisticos com a qualidade que a Madeira tinha, o padrão se mudou, eles conseguem manter o modelo.
O comentador da notícia quis jogar areia para os olhos.
O comentador ignora completamente a dimensão da "identidade turística", "património arquitetónico e cultural" e a "essência original" levantadas por Rui Campos Matos. Em vez disso, reduz todo o argumento à questão do emprego, como se o único critério de sucesso para o turismo fosse o número de empregos criados, desconsiderando a sustentabilidade cultural e a autenticidade. Segue a lógica de números de Eduardo Jesus e o "seu" órgão de comunicação social, o Diário de Notícias.
Ao dizer que o autor "deve viver alienado da realidade", o comentador desqualifica a perspetiva do especialista sem refutar os seus argumentos centrais sobre a perda de identidade e património. É um ataque Ad Hominem e de desqualificação à boa maneira dos abestalhados da Renovação. Agora os argumento é ofender e destratar, não têm argumentos.
Rui Campos Matos critica um modelo de desenvolvimento e as políticas atuais que levaram à perda de identidade. O comentador, por sua vez, desvia o foco para as "low cost" e a "mudança dos padrões pós pandemia", como se estas fossem as únicas causas das transformações, ignorando a crítica ao planeamento e às escolhas estratégicas. O Governo é intocável, a culpa é sempre dos outros. Se o secretário conseguiu isso com as culpas a um dicionário, tudo é possível daí para a frente.
O comentário estabelece uma falsa dicotomia entre as "quintas históricas" e a "criação de emprego pelos hotéis", sugerindo que não é possível ter ambos ou que a opção pelo património impediria o crescimento económico. A reflexão de Rui Campos Matos, no entanto, sugere um "crescimento turístico mais moderno e diversificado" em paralelo com a preservação do legado das quintas. Tivemos uma falsa dicotomia
A situação, esta notícia e comentário, ilustra perfeitamente como uma "verdade" (a crítica sobre a perda de identidade e património por um determinado modelo turístico) pode ser distorcida por uma "leitura enviesada". O idiota (também do dicionário) surge quando a complexidade de um argumento é reduzida a uma simplificação extrema, quando se desqualifica o mensageiro em vez da mensagem, ou quando se desvia o foco para questões tangenciais que servem uma agenda ou uma visão unilateral (neste caso, aparentemente, a visão de que o sucesso económico justifica qualquer transformação, ignorando outras dimensões de valor).
É aqui que agradecemos a existência do Madeira Opina.
A perspetiva de Rui Campos Matos é um alerta sobre os custos invisíveis (ou menos óbvios) do desenvolvimento. O comentário, por sua vez, representa uma visão puramente utilitária e economicista, que não reconhece esses custos e que se sente ameaçada por uma crítica que poderia implicar uma revisão de estratégias existentes.
Eduardo Jesus é o pior secretário do Turismo de sempre.
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